A divulgação parcial de arquivos de Epstein na sexta-feira sinaliza uma tentativa de encobrir os laços com Trump.
PN - A divulgação parcial dos arquivos de Epstein pelo Departamento de Justiça na sexta-feira sinalizou como a agência está usando uma variedade de táticas para tentar encobrir e obscurecer a ligação de Donald Trump com Jeffrey Epstein.
Nos documentos judiciais mais recentes divulgados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, citados pela BBC, Jeffrey Epstein teria apresentado uma menina de 14 anos a Donald Trump em Mar-a-Lago, na Flórida.
Durante o suposto encontro, ocorrido na década de 1990, o ex-magnata teria dado uma cotovelada no republicano e “perguntado em tom de brincadeira”, referindo-se à menor de idade: “Ela é boa, não é?”.
Enquanto o departamento corria contra o tempo para cumprir o prazo legal de sexta-feira para divulgar seus arquivos, pouco se soube sobre o que planejava divulgar. Nunca houve realmente dúvidas de que o departamento divulgaria os arquivos no final da tarde de sexta-feira, utilizando a velha tática de Washington de esconder notícias desfavoráveis antes do fim de semana.
Na manhã de sexta-feira, Todd Blanche, o procurador-geral adjunto, foi à Fox News para dizer que o departamento não divulgaria todos os arquivos naquela sexta-feira, como exigido por lei. "Espero que divulguemos mais documentos nas próximas semanas, então hoje, várias centenas de milhares, e nas próximas semanas, espero mais algumas centenas de milhares", disse Blanche à Fox News. "Há muita gente de olho nisso e queremos garantir que, quando divulgarmos o material que estamos divulgando, estejamos protegendo todas as vítimas."
Quando o departamento finalmente divulgou milhares de páginas de documentos na sexta-feira à noite — e não as centenas de milhares prometidas por Blanche — muitos deles já haviam sido fortemente ou completamente censurados. Além de algumas fotos, os documentos não mencionavam Trump, embora a procuradora-geral Pam Bondi tenha supostamente dito a Trump no início deste ano que seu nome constava nos arquivos.
A divulgação evidencia como o governo Trump está tentando equilibrar a demanda pela liberação dos arquivos — algo incentivado em grande parte pela base de apoiadores de Trump — com a tentativa de obscurecer a situação, divulgando documentos gradualmente para evitar constrangimentos a Trump, que foi amigo de Epstein por anos antes de se desentenderem. Blanche afirmou que o departamento continuará a divulgar os documentos de forma contínua nas próximas semanas — um período de festas de fim de ano —, apostando que os americanos simplesmente ignorarão a história à medida que ela se prolonga.
Thomas Massie, um republicano do Kentucky que patrocinou a lei para a divulgação dos arquivos, foi um dos muitos membros do Congresso a expressar indignação. Ele afirmou no Twitter que a divulgação "descumpre flagrantemente" a lei.
O Departamento de Justiça não respondeu imediatamente ao pedido de comentários.
“O governo Trump é o mais transparente da história. Ao divulgar milhares de páginas de documentos, cooperar com a intimação solicitada pelo Comitê de Supervisão da Câmara e com o recente pedido do presidente Trump por novas investigações sobre os amigos democratas de Epstein, o governo Trump fez mais pelas vítimas do que os democratas jamais fizeram”, disse Abigail Jackson, porta-voz da Casa Branca, em um comunicado.
A Lei de Transparência dos Arquivos Epstein , que exige a divulgação dos materiais, requer que a procuradora-geral Pam Bondi apresente, em até 15 dias após a divulgação dos documentos, um relatório detalhando todas as categorias dos registros e um resumo das partes ocultadas e seus fundamentos legais. Não está claro se esse relatório sofrerá atrasos, visto que os registros serão divulgados gradualmente.
Embora Trump mal tenha aparecido no relatório divulgado na sexta-feira, Bill Clinton aparece em diversas imagens. O Daily Wire, um site alinhado a Trump, obteve uma foto de Clinton com Epstein na quinta-feira, um dia antes da divulgação. Fotos de Clinton relaxando em uma piscina e em uma banheira de hidromassagem estavam entre as divulgadas na sexta-feira. Porta-vozes do Departamento de Justiça e da Casa Branca rapidamente destacaram as imagens no Twitter.
“Querido presidente democrata. A caixa preta foi adicionada para proteger uma vítima”, publicou Gates McGavick, porta-voz do Departamento de Justiça, junto com uma foto de Clinton no que parece ser uma banheira de hidromassagem com outra pessoa cujo rosto foi ocultado. Steven Cheung, diretor de comunicação da Casa Branca, publicou outra foto de Clinton com alguém cujo rosto também foi ocultado e, citando a música Jumpman, de Drake e Future, escreveu: “esses caras estão aprontando alguma coisa”.
Angel Ureña, porta-voz de Clinton, divulgou um comunicado na sexta-feira afirmando que o governo Trump estava usando o ex-presidente para tentar desviar a atenção da ligação de Trump com Epstein.
“A Casa Branca não escondeu esses arquivos por meses para depois divulgá-los na sexta-feira à noite para proteger Bill Clinton. A questão aqui é o que vem a seguir, ou o que eles tentarão esconder para sempre”, disse ele. “Então, eles podem divulgar quantas fotos de mais de 20 anos quiserem, mas isso não tem nada a ver com Bill Clinton. Nunca teve e nunca terá.”
Diversas outras celebridades apareceram nas imagens divulgadas na sexta-feira, incluindo Mick Jagger, Michael Jackson, Richard Branson, Chris Tucker, David Copperfield e Kevin Spacey. Assim como Clinton, nenhum deles foi acusado de qualquer crime relacionado a Epstein. Mas a presença imediata deles nos arquivos beneficia Trump, criando a impressão de que não era incomum homens famosos se associarem a Epstein.
Entretanto, a estratégia não agradou aos democratas no Capitólio. A liderança do partido criticou veementemente a divulgação limitada, e surgiram alguns apelos pela demissão de Bondi. “Agora o encobrimento veio à tona. Isso está longe de terminar”, escreveu a representante americana Alexandria Ocasio-Cortez no X. “Bondi deveria renunciar hoje à noite.”
Fonte: The Guardian
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