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"O SOPRO DO VENTO - CONFINS DO DESEJO"
Prefácio:
Em 1726, o
Brasil uma colônia Portuguesa, governado pelo vice-rei de Portugal, Conde de
Sabugosa, Vasco Fernandes César de Menezes.
Na fazenda “O
sopro do vento”, no Rio de Janeiro, de propriedade do Barão Rodolfo de
Pinheiros, tudo estava para acontecer após a chegada de sua sobrinha, a jovem
Vitoria, de vinte anos, que só poderá receber a herança de sua mãe, falecida
por uma doença fatídica, depois que complete vinte e cinco anos. Nesse período
de espera, quem irá administrar toda sua fortuna será seu tio, o Barão de
Pinheiros. Tudo se transforma quando a jovem é violada pelo próprio primo
Felipe. A jovem Vitoria foi oferecida ao primo em matrimônio pelo tio para
limpar sua honra, mas se apaixona pelo escravo Tonho, que se torna seu amante
arriscando a própria vida com essa relação.
Na senzala, a
escrava Moema se torna Marquesa de Casa Verde e faz escândalos na cidade.
A esposa do
Barão de Pinheiros, Baronesa Elvira, é assassinada no salão da casa grande e os
suspeitos eram a criadagem. Ninguém poderia imaginar que o assassino fosse
alguém próximo à Baronesa.
Na senzala uma
grande revolta dos escravos faz toda a plantação do canavial ser queimada. O
Barão de Pinheiros perde toda fortuna, levando-o ao desespero.
Vinganças,
paixões, amores perdidos e muitas emoções neste romance.
O sopro do vento
– Nos confins do desejo.
Capitulo Primeiro
Brasil do século XVIII. O século das luzes na Europa...
A carroça tinha acabado de chegar à entrada do casarão da grandiosa fazenda “Sopro do Vento”, no Rio de janeiro, de propriedade do senhor Rodolfo, o Barão de Pinheiros, um homem de trinta e oito anos, patriarca de uma família tradicional. O cocheiro Matias, conduzia duas mulheres: a bela Vitoria, de estatura alta, magra, olhos profundos, cabelos longos negros, presos no alto da cabeça, de cor branca, vinte anos e sua dama de companhia, Sofia de quarenta e seis anos, também de cor branca. Naquele período, contava muito a cor da pele. As pessoas que não fossem brancas eram hostilizadas, com grande abominação.
Vitoria era filha única. Sua genitora era irmã do Barão de Pinheiros e tinha acabado de falecer de tuberculose, deixando uma grande fortuna a ser administrada. Com medo que a filha não soubesse cuidar do patrimônio da família, antes de morrer, pede que seu amado irmão ajude sua filha a cuidar de seus bens, deixando no testamento, que Vitoria só poderá herdar toda riqueza, casas, lojas, fazendas, após os vinte e cinco anos e nesse período, seu tio o Barão de Pinheiros irá administrar todo patrimônio. Por essa razão Vitoria está indo morar na fazenda do tio, durante um período de cinco anos, para atender o desejo da mãe e completando a idade estipulada estará apta a cumprir o testamento de sua falecida mãe.
Sofia ajuda
Vitoria a arrumar o grande vestido rodado ao descer da carruagem. O mordomo era
um senhor negro, de uns quarenta anos, que veio recebê-la, vestido em um
impecável terno, com luvas brancas, abre a grande porta de entrada do casarão e
gentilmente diz:
_ Seja bem vinda sinhazinha! Eu me chamo Epaminondas, um servo ao seu dispor.
Vitoria como
toda moça rebelde da época balança a cabeça positivamente, confirmando que
entende. Gritando como uma desvairada pergunta:
_ Onde está o meu tio? Eu quase fui retirada a força de minha casa para vir para esta fazenda com minha dama de companhia, Sofia. Isto não se faz! Eu estava muito bem em minha casa.
Naquele instante
aparece o tio, um belíssimo homem, que ao ver sua sobrinha gritar, se altera
elegantemente, corrigindo os modos da moça:
_ Você não teve educação, minha cara sobrinha? Não creio que minha irmã não tenha lhe ensinado bons modos. Acredito que você frequentou alguns salões da corte, onde as moças são comportadas. Não se pode entrar na casa de alguém aos berros como você fez.
Vitoria se
acalma e pede desculpas ao tio:
_ Perdoe meus modos, tio! Deve ser por causa da longa viagem que fizemos, nós estamos mortas de cansaço! Por favor, tio! Não poderia continuar vivendo na casa onde fui criada? Por que eu tenho que vir morar com o senhor?
O tio Rodolfo,
Barão de Pinheiros, elegantemente vestido para a época, com o corpo ereto,
responde sua sobrinha:
_
Minha cara sobrinha! Foi desejo de sua adorada genitora que você viesse viver
aqui na fazenda por estes cinco anos, período que eu tentarei ensiná-la como
cuidar de seus bens materiais.
No testamento está escrito que você somente poderá herdar a sua fortuna após os
vinte e cinco anos.
Vitoria com os olhos caídos de cansaço, em um fio de voz retruca:
_
Tio, se mamãe achava que era preciso eu viver com o senhor esses cinco anos
para receber minha herança, então faremos a sua última vontade, mesmo não entendendo
o porquê desta decisão.
_
Vitoria, a vontade de sua genitora é incontestável. Caso você não esteja de
acordo, irá perder todos os direitos de receber sua herança, portanto tenha
paciência e aceite com determinação à última vontade de minha amada irmã. Agora
pode ir para os seus aposentos. Epaminondas irá acompanhá-las até os vossos
quartos, na ala superior da casa.
Vitoria, com um olhar rebelde deixa-se vencer pelo cansaço da viagem e Sofia, sua dama de companhia diz:
_
Obrigada pela hospitalidade, senhor Barão! Tenho certeza que amanhã a
sinhazinha Vitoria estará repousada e entenderá a situação.
_
Muito obrigado Sofia! Eu já hospedei você com minha finada irmã outras vezes,
quando Vitoria era ainda uma tênue criança. Eu conheço a sua postura e a sua
elegância como dama de companhia. Você sempre foi fiel à família de minha irmã
e esteve ao seu lado quando Vitoria perdeu seu pai há alguns anos atrás. Faça como se
fosse sua casa e bom descanso às duas.
_
Sinhazinha Vitoria, vim ajudá-la a despir-se!
_
Sofia, titio não é tão velho como eu imaginava! É um belo homem, ainda
jovem. Pergunto-me onde está sua
família, mulher, filhos, já que mamãe dizia que ele tinha uma belíssima
família.
_
Sinhazinha Vitoria! Eu lembro que estivemos nessa fazenda com sua mãe várias
vezes, você ainda era muito pequena. Seu tio e sua esposa a senhora Elvira e
seus dois filhos homens, eram muito gentis com sua genitora. Penso que a sua
tia deve estar em alguma parte da propriedade, visto que nós estamos numa
fazenda, em um local muito grande, como uma cidade. Eu não sei se você sabe
sinhazinha, mas o seu tio tem duzentos escravos, entre homens e mulheres e é
considerado e bem visto na corte do Rei.
_
Eu não me lembro de minha tia nem dos meus primos, mas será que ela continua
essa mulher gentil que você descreveu Sofia?
_
Sinhazinha Vitoria não creio que sua tia tenha mudado o caráter e quanto aos
seus primos, eles devem ser dois rapazes belíssimos, mais ou menos da sua
idade, porque quando aqui viemos em visita à última vez, você tinha apenas três
anos. Eu retornei algumas vezes a serviço de sua finada genitora. Sinhazinha
agora tente dormir. Amanhã terás muitas emoções para viver com os seus
familiares.
Vitoria concorda com sua dama de companhia, coloca-se para dormir numa grande cama, em um colchão de pena de ganso. A mobília do quarto era elegante para o período. Nos pés da cama tinha um delicioso sofá de três lugares, com uma banheira dentro do quarto, onde os empregados traziam água quente para os patrões quando fossem tomar banho. Numa outra parte, um grande espelho e no canto do espelho estava um grande vaso rústico, de cimento com algumas ornamentações enfeitando o quarto. Em volta de toda cama, um grande véu protegia dos insetos quem estivesse dormindo. Sofia se retira para os seus aposentos, na parte inferior, próximo ao quarto dos escravos, onde dormiam doze pessoas, entre homens e mulheres que trabalhavam na casa grande.
...
_
Bom dia! Tia Elvira, ontem quando cheguei à senhora não estava!
Tia Elvira é uma jovem mulher de trinta e seis anos, esposa do seu tio Rodolfo, o Barão de Pinheiros. Elegantemente vestida e com uma postura aristocrata, Elvira é de uma família de nobres e ricos. Com um olhar imponente ela responde sua sobrinha:
_
Vitoria querida! Realmente não vi a sua chegada. Seja bem-vinda, sobrinha.
Espero que sua permanência seja de muito agrado entre nós.
Felipe sempre
fora um rapaz divertido e esportivo, ao contrário de Gustavo, que era tímido,
introspectivo e voltado para a arte. Felipe com um sorriso contagiante diz a
sua prima:
_
Querida prima, é muito bom tê-la entre nós! Tenho certeza que iremos nos
divertir muitíssimo! Após o café gostaria de lhe mostrar a fazenda, se meus
genitores assim o permitirem.
_
Fique a vontade Felipe! Acompanhe Vitoria pela fazenda e você Gustavo não diz
nada para sua prima?
_
Seja bem vinda prima! É um grande prazer tê-la entre nós.
_
Tia Elvira eu soube que a senhora viaja muito! Conte-me algumas notícias de
Lisboa ou de Paris!
_
Primeiro de tudo, pode parar de chamar-me de senhora, afinal não sou tão velha
assim e sobre Lisboa na corte a última novidade é a moda que veio de Londres:
vestidos de seda, elegantíssimos, que deixariam qualquer jovem de bom gosto
como você, sonhar. Em Paris, o rei Luís XV de França vai ser pai, sua esposa
parece que está em estado interessante.
_
Eu soube que ele casou com apenas quinze anos tia, depois de um ano de
casamento conseguiu engravidar a esposa? Mas não falaram que ele não poderia
ter filhos?
_
Tanto não é verdade, que sua esposa está grávida e dizem que devem ser gêmeos.
O rei até deixou uma declaração para quem estava difamando a sua honra:
"Foi-me dito que eu não podia ter filhos, pois bem: dei um golpe
duplo"!
_
Minha cara esposa, parece que as senhoras de hoje não se envergonham mais em
falar de um assunto tão delicado na frente de cavalheiros.
Elvira
sorrindo, olha diretamente sua sobrinha Vitoria:_ Caro senhor meu marido, desde
quando falar de filhos ou de gravidez deve ser uma vergonha? Os homens criam
tabu em tudo.
_
Senhor meu pai, acredito que falar de gravidez não deveria ser uma coisa do
outro mundo. Estamos no século XVIII, o senhor poderia parar com essas ideias
conservadoras.
_
Gustavo meu filho, defenda seu pai! Ou deverei ter que me ver sozinho nesta
discussão?
_
Senhor meu pai! Creio que o senhor tem toda razão: diálogos como estes que
falam da intimidade de um casal, deveriam ser restritos a quatro paredes.
_
Vejo que nessa casa tem alguém que raciocina como eu! Muito bem, meu caro
Gustavo!
_
Senhor meu pai! Estamos na era moderna. Fique sabendo que o senhor deveria
abrir mais a sua mente para as inovações que acontecem com o tempo. Andei
ouvindo que em Liverpool, capital do comércio transatlântico de escravos, algumas pessoas falam que em breve
eles serão libertos e protegidos pelas nossas próprias leis. Mais ainda: serão
considerados iguais aos brancos.
_
Eu sou contra torturar e maltratar os escravos, mas considerá-los iguais aos
brancos é uma ofensa! É como acreditar que somos parecidos com os chimpanzés.
Não acredito que essas ideias irão muito longe. Os interesses dos grandes
senhores de terras não deixarão isso acontecer. É uma quimera! Além do mais as
roupas, armas de fogo, munições e ferro chegam com preços relativamente baixos
no burburinho do comércio local. Em suma, os mercadores de Liverpool baixaram
custos, são bem mais rápidos e mais flexíveis. Eles estreitaram relações com os
vendedores de escravos do Oeste da África. Aproveitaram-se dessa proximidade,
para providenciar todos os produtos almejados por seus parceiros comerciais.
_
Viu sobrinha Vitoria! Em pleno ano de 1726 estamos aqui discutindo sobre
libertar ou não os escravos. O que você acha sobre isso?
_
Eu sou a favor de libertá-los. Eu os vejo como seres iguais aos brancos, apenas
com cor diferente. Eles sentem dor, fome, choram. Tudo que sentimos, eles
sentem.
_
O cachorro chora e sente fome, nem por isso é considerado um ser humano prima._
Finalizou
sua opinião com uma sutil gargalhada,
depois convida Vitoria para irem fazer a visita pela fazenda:
_
Vamos prima! Já está ficando tarde. Quero mostrar tudo da nossa fazenda.
_
Senhor meu marido! Irei deitar-me um pouco. Eu estou com uma enorme enxaqueca
depois dessa conversa abolicionista.
_
Fique a vontade, senhora minha esposa! Eu irei verificar o trabalho escravo em
nossas plantações de cana-de-açúcar.
_
Senhora Benedita, essa Sofia é muito abusada! Sentou-se à mesa dos patrões como
se não fosse empregada.
_
Dona Benedita, a senhora às vezes parece que é ingênua: então não sabe que tem
vozes por ai dizendo que ela é mestiça? Parece que ela era filha do avô da
sinhazinha Vitoria com uma negra escrava. Na verdade ela é a tia bastarda dessa
sinhazinha Vitoria.
_
Bom dia senhora Benedita! Poderia pegar um pouco de água para beber? Estou um
pouco mal da garganta. Deve ter sido por causa da viagem que fiz com a
sinhazinha Vitoria.
_
Pois não minha filha, como você está?
_
Muito obrigada, senhora Benedita! Eu vou muito bem, com os afazeres de minha
patroa, mas nada de particular. Vejo que depois da última vez que estive aqui
na fazenda
você ganhou uma ajudante nova. Se não me
engano, foi há uns dez anos atrás?
_
Isso mesmo, senhora Sofia! Dez anos atrás. Essa é a Catarina. É nova por aqui,
ajudante de cozinha.
_
Muito prazer senhora Sofia, as suas ordens!
_
O prazer é todo meu, Catarina. Se precisar de alguma coisa, conte comigo.
Aliás, depois as duas, quando tiverem um tempinho venham em meu quarto que eu
tenho algumas roupinhas que eu não uso mais para dar-lhes de presente.
_
Agora a senhora veja só! Essa escrava de pele branca, querendo nos presentear
com roupas usadas, que ela não usa mais. Que mulher nojenta e petulante.
_
Meu Deus! Como você é desaforada! Cale sua boca Catarina e descasque estas
batatas...
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