Nessa semana saiu um artigo na imprensa internacional sobre trabalho escravo que causou frisson nas redes sociais. O artigo era sobre uma consumidora inglesa, chamada Rebecca Gallagher, de 25 anos, que adquiriu um vestido na rede fast fashion Primark, e foi surpreendida quando olhou para a etiqueta do vestido e viu a seguinte frase estampada: ‘Forced to work exhausting hours’ ( forçados a trabalhar horas exaustivas ).
A frase foi escrita em um tecido separado e costurado junto com as demais etiquetas. Rebecca descobriu a frase quando procurava instruções para lavar o vestido pela primeira vez. A inglesa, imaginando que a frase seria um “pedido de ajuda”, resolveu procurar a Primark, mas não foi atendida. Um porta voz da empresa Irlandesa, famosa pelos preços baixos praticados, comentou que ”não existem outros casos como este” e que ficariam “agradecidos se a cliente desse o vestido para que o problema fosse investigado".
A notícia ganhou repercussão pois é a primeira vez que uma consumidora se depara com uma mensagem pessoal de alguém que clama por ajuda. Sem entrar na polêmica se a mensagem é verdadeira ou falsa, qualquer cidadão ficaria constrangido de ter, em mãos, uma peça com esses dizeres. A ironia nessa história é que várias roupas que usamos podem ter sido fabricadas por pessoas sujeitas à situações e condições degradantes de trabalho, já que ainda não há um sistema de rastreamento difundido que nos assegure que as peças foram confeccionadas respeitando os direitos trabalhistas, o que, convenhamos, seria o mínimo.
O caso inglês mostra que esse problema é global. Isso acontece na Europa e Estados Unidos, que acabam terceirizando sua produção para países da Ásia e da África, e também no Brasil. No início do mês passado, a Receita Federal resgatou seis bolivianos na Zona Leste de SP em uma oficina terceirizada que estava produzindo peças para a M.Officer. Nesse novo flagrante, foram encontrados os mesmos problemas já identificados em situações anteriores de jornadas exautivas, pagamentos reduzidos e ambiente degradante e sem segurança. A procuradora do Ministério Público, Tatiana Simonetti, que acompanhou o trabalho da Polícia Federal, disse que o mais grave é que não é uma situação pontual, mas “todo o sistema de produção da M. Officer está estruturado para submeter de maneira sistemática os costureiros à condições degradantes de trabalho”.
A comoção nas redes sociais esta semana mostra que há sim esperança para se reverter esse quadro -- que não deveria fazer mais parte da nossa realidade desde a abolição da escravatura. Mas mais do que apenas tuitar ou esbravejar no facebook contra as empresas envolvidas em situações como essa, cabe a nós, consumidores, fazermos um pacto de não comprarmos mais em marcas envolvidas com trabalho escravo. Só assim, quando sentirem no bolso, perderem clientela e verem seus lucros caírem essas marcas verão que o barato pode sair caro. E que nós não queremos roupas com pedido de socorro -- venha ele nas etiquetas ou pelos jornais. Que o trabalho escravo saia, definitivamente, da moda.
yahoo Brasil
Comentários