Dia de festa na favela


O dia estava amanhecendo... dona Estanislavia já estava preocupada com a ceia de natal, afinal morar no morro tem suas vantagens mas seus prejuízos também, tinha que acordar as 5 horas da manha para poder arrumar a casa, lavar o chão e secar os buraquinhos onde ficava acumulada a água em seu barraco.
Ertaviano seu filho mais velho, de 15 anos progrediu muito na vida, era gerente de marketing no tráfico do morro, e o menorzinho, Zoinho, tinha esse apelido por causa dos olhinhos charmosos e encantadores de um pequeno detalhe de nascimento, o estrabismo, era o vaporzinho da favela, dona Estanislavia participava ativamente junto com seus dois filhos na empresa como cozinheira dos chefes.

Os vizinhos não conseguiam entender por que a dona Estanislavia acordava tão cedo para ir a feira na hora da xepa...Ela dizia que gostava de arrumar sua casa bem cedo, caso recebesse visita não seria pega de surpresa. Se é que se poderia chamar de casa o barraco com dois cômodos
Estanislavia minutos antes de a feira acabar chegava e já entrava na luta contra os concorrentes tal como ela catadora de xepas, era um puxa puxa, um chega pra lá que eu peguei primeiro, rolavam no chão, brigavam pela laranja menos podre, pelo tomate menos amassado, pela espinha de peixe com mais carne...No final de tudo dona Estanislavia chegava em casa com o cabelo em pé parecendo que estava vindo de uma guerra, muitas vezes ela confessava que tinha mais medo de fazer a feira que driblar os tiros na favela.
Zoinho quando via sua mãe chegar da feira corria todo metido gritando para as amiguinhas da favela:" Minha mãe esta rica, comprou muitas comidas, epa"

E lá ia Zoinho contente pegar uma das laranjas podre e comentava com muito orgulho: " Laranja boa que dói os estromagos, que gostinho bom de vinagre"
Derepente dona Estanislavia escuta os fogos de artifício, isso significa que vai ter tiroteio na favela e que a polícia esta invadindo, é um corre corre, um Deus nos acuda, do buraquinho da parede de tabua de seu barraco Zoinho tenta ver o que esta acontecendo, dona Estanislavia empurra o filho e grita: "sai pra la zoiudo, deixa eu ver o que esta acontecendo...Teu irmão Ertaviano ta lá na gerencia da empresa."
E foi so a pobre Estanislavia falar o nome do filho mais velho e ver voar no céu uma perna e cair em cima do seu barraco...A pobre mulher aos gritos em desespero com suas amiga de guerra (vizinhas de barraco) em prantos: As pernas do meu fio Ertaviano gente, rancaram a perna dele...Uma das vizinhas curiosa pergunta: " E como qui tu sabe qui a perna é dele muié"?

Ela ainda em soluços responde: "O unico na favela qui tem o dedao com a unha encravada e com xulé com cheiro di peixe estragado é meu fio ".
Outra vizinha descontraida retruca: "Nao si preocupe comadre tu ja tem um zoinho em familia agora tu tem o pernetinha."

E assim essa familia ia vivendo a vida, com seus altos (o morro) e baixos a cidade!


texto: Amanda

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