"Esse telefone está desligado ou fora de área"
Muitas vezes eu me pergunto como conseguimos viver tantos dias, meses, séculos, milênios sem telefone celular. Como isso é prático, não? Onde quer que você esteja, pode se comunicar com o mundo, pedir socorro, avisar de atrasos, fazer surpresas, tudo. O celular realmente é uma mão na roda. Difícil é ficar sem.
Uma coisa, porém, é ser fã da tecnologia. A outra é virar escrava dela. E tenho percebido que as pessoas criaram uma relação de dependência muito chata com o aparelhinho. Atendem ligações no cinema, no teatro, na praia, no meio de um jantar romântico, no motel, no meio da balada.
Há uns bons anos eu tinha um namorado que me apresentou a uma teoria sobre o celular. Dizia o sábio: “Quando você tem celular, você cria nas pessoas a expectativa de que elas vão te encontrar sempre. Por isso, enche a paciência quando eu te ligo e você não atende!”.
Esse poço de sabedoria me fez refletir sobre duas coisas: primeiro, as expectativas das pessoas são um problema única e exclusivamente delas, não cabe a mim supri-las; segundo, o fato de eu dispor de uma linha digital não me obriga a atender o telefone toda vez que ele toca.
Na verdade, o celular para mim é uma maneira de tornar a vida mais prática. Não de atender todo mundo na hora que eles ligam. Não tem coisa mais irritante do que ouvir o meu celular tocar e, ao deixá-lo quieto, as pessoas começarem:
- Não vai atender?
- Não.
- Mas por que?
- Não quero, ué!
- E vai deixar tocando??
Qual é o problema? Geralmente quando eu digo isso, eu estou vendo um filme na TV e não quero interrompê-lo, estou cochilando no sofá, estou fazendo algo que não posso parar, ou simplesmente não estou com saco de conversar com ninguém. Não quero atender o telefone celular, pronto! Qual é o problema?
Outro dia estava eu tomando banho e meu pai entra no banheiro com o celular na mão, tocando.
- Pai, você espera que eu atenda o celular embaixo do chuveiro?
- O que você quer que eu faça, deixe tocando??
SIM! Qual é o problema em deixar um celular tocando? Não digam que o barulho é irritante, porque não é esse o motivo. As pessoas desenvolveram compulsão por atender chamadas de celular. A desculpa delas geralmente é: “E se for urgente?”
Bem, vamos raciocinar. Até 1995 não existia esse negócio de celular. Ou seja, contando só o calendário cristão, conseguimos viver quase dois mil anos sem essa tecnologia. E o que se fazia com as coisas urgentes? Oras, bolas, vivia-se bem com isso. Dava-se um jeito.
Meus amigos e familiares me xingam. Dizem que meu celular é mero enfeite. Simplesmente porque não atendo ligações na hora que eles querem. Mas eu admito que enche demais o saco, esse negócio toca o dia inteiro sem parar. Muitas vezes, o aparelho está na bolsa e eu não ouço. Não atendo nenhum telefonema quando estou dormindo, e isso é lei. Se vou à praia, o celular fica em casa. Se vou pra academia, andar de bicicleta, levar os cachorros pra passear, qualquer coisa... definitivamente, celular não anda grudado em mim através de cordão umbilical.
Em alguns momentos eu estou almoçando e alguém do escritório vai até a cozinha me levar o celular, que está tocando. Muito gentil da parte dele, mas eu preferiria que deixasse tocar. A não ser que alguém tenha morrido, eu não preciso atender aquela ligação naquele exato momento, porque eu estou comendo, querendo relaxar um pouco e pensar na vida. Que mania!
Eu não preciso atender só porque alguém espera que eu faça isso. Deixe recado, eu ligo depois. Eu costumo ter momentos em que eu quero ficar só, comigo mesma, me concentrar nas minhas coisas. Não há nada de demoníaco nisso!
Posso estar errada. Mas imagino que quem não consegue ficar sem atender telefone celular e precisa dele até para ir ao banheiro, sofre de carência afetiva crônica. E podia começar, aos poucos, descobrir o prazer do silêncio e de curtir a sua própria companhia.
Estou quase liderando uma campanha “Um dia sem celular”. Não vai dar certo. Mas talvez as pessoas descobrissem coisas muito interessantes fora deste mundo.
Muitas vezes eu me pergunto como conseguimos viver tantos dias, meses, séculos, milênios sem telefone celular. Como isso é prático, não? Onde quer que você esteja, pode se comunicar com o mundo, pedir socorro, avisar de atrasos, fazer surpresas, tudo. O celular realmente é uma mão na roda. Difícil é ficar sem.
Uma coisa, porém, é ser fã da tecnologia. A outra é virar escrava dela. E tenho percebido que as pessoas criaram uma relação de dependência muito chata com o aparelhinho. Atendem ligações no cinema, no teatro, na praia, no meio de um jantar romântico, no motel, no meio da balada.
Há uns bons anos eu tinha um namorado que me apresentou a uma teoria sobre o celular. Dizia o sábio: “Quando você tem celular, você cria nas pessoas a expectativa de que elas vão te encontrar sempre. Por isso, enche a paciência quando eu te ligo e você não atende!”.
Esse poço de sabedoria me fez refletir sobre duas coisas: primeiro, as expectativas das pessoas são um problema única e exclusivamente delas, não cabe a mim supri-las; segundo, o fato de eu dispor de uma linha digital não me obriga a atender o telefone toda vez que ele toca.
Na verdade, o celular para mim é uma maneira de tornar a vida mais prática. Não de atender todo mundo na hora que eles ligam. Não tem coisa mais irritante do que ouvir o meu celular tocar e, ao deixá-lo quieto, as pessoas começarem:
- Não vai atender?
- Não.
- Mas por que?
- Não quero, ué!
- E vai deixar tocando??
Qual é o problema? Geralmente quando eu digo isso, eu estou vendo um filme na TV e não quero interrompê-lo, estou cochilando no sofá, estou fazendo algo que não posso parar, ou simplesmente não estou com saco de conversar com ninguém. Não quero atender o telefone celular, pronto! Qual é o problema?
Outro dia estava eu tomando banho e meu pai entra no banheiro com o celular na mão, tocando.
- Pai, você espera que eu atenda o celular embaixo do chuveiro?
- O que você quer que eu faça, deixe tocando??
SIM! Qual é o problema em deixar um celular tocando? Não digam que o barulho é irritante, porque não é esse o motivo. As pessoas desenvolveram compulsão por atender chamadas de celular. A desculpa delas geralmente é: “E se for urgente?”
Bem, vamos raciocinar. Até 1995 não existia esse negócio de celular. Ou seja, contando só o calendário cristão, conseguimos viver quase dois mil anos sem essa tecnologia. E o que se fazia com as coisas urgentes? Oras, bolas, vivia-se bem com isso. Dava-se um jeito.
Meus amigos e familiares me xingam. Dizem que meu celular é mero enfeite. Simplesmente porque não atendo ligações na hora que eles querem. Mas eu admito que enche demais o saco, esse negócio toca o dia inteiro sem parar. Muitas vezes, o aparelho está na bolsa e eu não ouço. Não atendo nenhum telefonema quando estou dormindo, e isso é lei. Se vou à praia, o celular fica em casa. Se vou pra academia, andar de bicicleta, levar os cachorros pra passear, qualquer coisa... definitivamente, celular não anda grudado em mim através de cordão umbilical.
Em alguns momentos eu estou almoçando e alguém do escritório vai até a cozinha me levar o celular, que está tocando. Muito gentil da parte dele, mas eu preferiria que deixasse tocar. A não ser que alguém tenha morrido, eu não preciso atender aquela ligação naquele exato momento, porque eu estou comendo, querendo relaxar um pouco e pensar na vida. Que mania!
Eu não preciso atender só porque alguém espera que eu faça isso. Deixe recado, eu ligo depois. Eu costumo ter momentos em que eu quero ficar só, comigo mesma, me concentrar nas minhas coisas. Não há nada de demoníaco nisso!
Posso estar errada. Mas imagino que quem não consegue ficar sem atender telefone celular e precisa dele até para ir ao banheiro, sofre de carência afetiva crônica. E podia começar, aos poucos, descobrir o prazer do silêncio e de curtir a sua própria companhia.
Estou quase liderando uma campanha “Um dia sem celular”. Não vai dar certo. Mas talvez as pessoas descobrissem coisas muito interessantes fora deste mundo.
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Big Kiss