O menino rico está brincando, no quarto, enorme, todo equipado. A empregada doméstica chega com o maior carinho – por causa da patroa, claro – e chama-o para comer seu almoço ou janta. O menino esperneia, grita, bate, faz de tudo, mas não vai comer. E ai da empregada doméstica se o fizer chorar. Vem a mãe e vê que o menino não quer comer e por “amor” ao filho, deixa-o brincando em paz.
O menino pobre está brincando na rua que está toda suja, cheia de lama, uma vez ou outra passa um carro que obriga ele e os amiguinhos a interromperem a brincadeira. Quando o carro passa a poeira fica muito alta, às vezes não dá para ver mais quase nada, obrigando-os a esperarem a poeira baixar para voltarem à brincadeira. Chega a hora do almoço, a mãe do menino chama-o. Com um mal humor, um estresse insuportável, com uma voz estridente. O menino pede para brincar mais um pouco, mas a mãe pega o chinelo e o ameaça de bater caso não fosse comer, e ainda acrescenta que se não for logo o pai ia comer tudo quando acordasse da ressaca.
O menino rico acorda no meio da noite e desata um choro. Todo mundo acorda e vai mimá-lo até que volte a dormir, numa cama extremamente confortável, com o clima agradável, nenhum barulho e muita tranqüilidade.
O menino pobre dormindo no chão porque pelo rodízio, hoje era a noite de outro irmão seu ocupar a cama, que já estava sendo dividida por cinco. Todos os dias as crianças faziam um rodízio para ver quem era que dormiria no chão e quem dormiria na cama. No meio da noite ouvem-se tiroteios e gritos de agonia. Sons de carros e ambulância, de policiais gritando e bandidos correndo por entre as casas para despistarem. O menino desata no choro. O pai roncando acorda e grita: “Vai dormir moleque!”. Mas o menino ainda chora. De repente, toda descabelada surge a mãe, magrela, feia, descuidada, gritando: “Engole o choro menino!”. Pelo susto o menino desata a chorar mais alto e mais desesperadamente. A mãe ainda tenta, pegando a chinela na mão ameaçando: “não vai engolir o choro não?!”. Até que o menino se cala.
O menino rico passeando pela cidade, no carro do ano, todo equipado, com motorista, passa pela rua onde está o menino pobre sentado na calçada de casa. Lança seu olhar de desprezo ao menino pobre, que calmamente vem pedir esmola, pois o carro havia parado no sinal. O menino rico sorri da cara do outro, e manda-o desencostar, senão ia sujar e precisaria comprar outro. O menino pobre sai chorando pelos becos da favela.
O menino rico passa numa faculdade particular e se forma num curso bastante concorrido. Apesar de ter sido um dos piores alunos, seus pais fizeram com que os reitores o agüentassem lá, afinal, eles eram milionários, e isso era argumento suficiente para mantê-lo estudando em qualquer escola. Quem queria perder tamanha honra?
O menino pobre, sem nenhuma saída, sem recursos nenhum para uma vida digna, sem poder ir à escola, apesar de que no tempo em que ele pôde freqüentar a escola, mesmo que só por um ano, foi o melhor aluno, não tinha mais nenhuma condição, nem em uma pública. Seu pai chegava todo dia bêbado, e quando acordava já quase de tarde passava o dia fora. Sua mãe sempre tinha a cara “amarrada”. Não teve saída e entrou para o mundo dos crimes. Começou numa posição bem inferior, mas foi se dedicando, até que em pouco tempo tornou-se chefe de uma boca de fumo.
O menino rico, agora com um emprego conseguido pelo pai, fica o dia todo sem saber o que fazer, só de bobeira na empresa, afinal, não aprendera nada no curso. De noite vai numa boate ou numa rave, das mais badaladas da cidade.
O menino pobre agora dominava várias bocas de fumo e tornou-se chefe do crime local. Enriqueceu com o ofício e começou a freqüentar uma boate fina de gente rica. Começou a observar o local, viu que o pessoal lá eram todos bem de vida. Viu a condição de cada um e despertou-lhe a idéia de ali ser o seu tesouro.
Convocou a gangue e arquitetou um plano para assaltar a boate. O plano se consumou com absoluto sucesso. Além de levarem todo o dinheiro da boate assaltaram a todos que estavam lá, e então decidiram por se especializar no ramo.
O menino rico, no trabalho, soube da notícia da gangue que estava assaltando as boates. Ele ficou sabendo porque disseram a ele, pois ele nunca leu jornal. Nem se importou. Neste dia contratou uns dois seguranças para acompanhá-lo onde fosse. No percurso para a boate viu o menino pobre de novo, sentado na calçada de casa, normal. Parou no sinal, o menino pobre veio cobrar pedágio, pois aquela região ali era dele. Os seguranças do menino rico sacaram a arma e o espancaram lá. O menino rico ficou sorrindo e mangando como nunca da vida do pobre infeliz. O menino pobre lembra-se dele, mesmo sendo o chefão, não podia dar bobeira naquele ponto que era tão suscetível à polícia, portanto não tinha quem o ajudasse no momento.
O menino pobre mandou comprarem jornal e lhe dessem as páginas com foto. Finalmente ele encontrou. A foto com a legenda dizendo que este - o menino rico - era o freqüentador ilustre da boate.
No outro dia o menino pobre reuniu a gangue e foi para aquela boate. Entrou sozinho para ter uma pequena conversa com o menino rico. Ao se encontrarem, o menino rico nem prestou atenção aos dizeres do menino pobre, afinal, ele era pobre, não tem nada o que falar além de pedir esmola, e como ele tinha entrado lá?
Os seguranças do menino rico pegaram o menino pobre a força e o levaram para fora. Lá, quando foram espancá-lo, foram fuzilados pela gangue. Nesse momento colocaram o plano em ação. Roubaram a todos e humilharam o menino rico, que chorava como uma criança, assim como o menino pobre chorou pela primeira vez quando foi humilhado.
O menino pobre não se contentou e matou o menino rico. Chegou a polícia e cercou o prédio da boate. Como o menino pobre já tinha realizado o seu sonho de infância - se vingar do menino rico - não pensou duas vezes e matou todos os reféns e trocou tiros com a polícia que como sempre, não teve como reagir.
O menino pobre saiu correndo com a gangue num carro, com todas as coisas roubadas. A polícia saiu correndo, mas não os alcançou.
O pai do menino rico, por ser rico teve apoio total da mídia, sendo assim o menino pobre totalmente repudiado. A polícia toda foi comovida à força pela mídia, pois todos eles temiam o menino pobre que se tornara muito poderoso com sua gangue. Mas o dinheiro do pai do menino rico contava mais, e cercaram toda a favela e fuçaram tudo, até encontrarem o menino pobre e matá-lo, divulgando depois na imprensa que ele foi vítima de bala perdida dos confrontos.
Caso encerrado...
O menino pobre está brincando na rua que está toda suja, cheia de lama, uma vez ou outra passa um carro que obriga ele e os amiguinhos a interromperem a brincadeira. Quando o carro passa a poeira fica muito alta, às vezes não dá para ver mais quase nada, obrigando-os a esperarem a poeira baixar para voltarem à brincadeira. Chega a hora do almoço, a mãe do menino chama-o. Com um mal humor, um estresse insuportável, com uma voz estridente. O menino pede para brincar mais um pouco, mas a mãe pega o chinelo e o ameaça de bater caso não fosse comer, e ainda acrescenta que se não for logo o pai ia comer tudo quando acordasse da ressaca.
O menino rico acorda no meio da noite e desata um choro. Todo mundo acorda e vai mimá-lo até que volte a dormir, numa cama extremamente confortável, com o clima agradável, nenhum barulho e muita tranqüilidade.
O menino pobre dormindo no chão porque pelo rodízio, hoje era a noite de outro irmão seu ocupar a cama, que já estava sendo dividida por cinco. Todos os dias as crianças faziam um rodízio para ver quem era que dormiria no chão e quem dormiria na cama. No meio da noite ouvem-se tiroteios e gritos de agonia. Sons de carros e ambulância, de policiais gritando e bandidos correndo por entre as casas para despistarem. O menino desata no choro. O pai roncando acorda e grita: “Vai dormir moleque!”. Mas o menino ainda chora. De repente, toda descabelada surge a mãe, magrela, feia, descuidada, gritando: “Engole o choro menino!”. Pelo susto o menino desata a chorar mais alto e mais desesperadamente. A mãe ainda tenta, pegando a chinela na mão ameaçando: “não vai engolir o choro não?!”. Até que o menino se cala.
O menino rico passeando pela cidade, no carro do ano, todo equipado, com motorista, passa pela rua onde está o menino pobre sentado na calçada de casa. Lança seu olhar de desprezo ao menino pobre, que calmamente vem pedir esmola, pois o carro havia parado no sinal. O menino rico sorri da cara do outro, e manda-o desencostar, senão ia sujar e precisaria comprar outro. O menino pobre sai chorando pelos becos da favela.
O menino rico passa numa faculdade particular e se forma num curso bastante concorrido. Apesar de ter sido um dos piores alunos, seus pais fizeram com que os reitores o agüentassem lá, afinal, eles eram milionários, e isso era argumento suficiente para mantê-lo estudando em qualquer escola. Quem queria perder tamanha honra?
O menino pobre, sem nenhuma saída, sem recursos nenhum para uma vida digna, sem poder ir à escola, apesar de que no tempo em que ele pôde freqüentar a escola, mesmo que só por um ano, foi o melhor aluno, não tinha mais nenhuma condição, nem em uma pública. Seu pai chegava todo dia bêbado, e quando acordava já quase de tarde passava o dia fora. Sua mãe sempre tinha a cara “amarrada”. Não teve saída e entrou para o mundo dos crimes. Começou numa posição bem inferior, mas foi se dedicando, até que em pouco tempo tornou-se chefe de uma boca de fumo.
O menino rico, agora com um emprego conseguido pelo pai, fica o dia todo sem saber o que fazer, só de bobeira na empresa, afinal, não aprendera nada no curso. De noite vai numa boate ou numa rave, das mais badaladas da cidade.
O menino pobre agora dominava várias bocas de fumo e tornou-se chefe do crime local. Enriqueceu com o ofício e começou a freqüentar uma boate fina de gente rica. Começou a observar o local, viu que o pessoal lá eram todos bem de vida. Viu a condição de cada um e despertou-lhe a idéia de ali ser o seu tesouro.
Convocou a gangue e arquitetou um plano para assaltar a boate. O plano se consumou com absoluto sucesso. Além de levarem todo o dinheiro da boate assaltaram a todos que estavam lá, e então decidiram por se especializar no ramo.
O menino rico, no trabalho, soube da notícia da gangue que estava assaltando as boates. Ele ficou sabendo porque disseram a ele, pois ele nunca leu jornal. Nem se importou. Neste dia contratou uns dois seguranças para acompanhá-lo onde fosse. No percurso para a boate viu o menino pobre de novo, sentado na calçada de casa, normal. Parou no sinal, o menino pobre veio cobrar pedágio, pois aquela região ali era dele. Os seguranças do menino rico sacaram a arma e o espancaram lá. O menino rico ficou sorrindo e mangando como nunca da vida do pobre infeliz. O menino pobre lembra-se dele, mesmo sendo o chefão, não podia dar bobeira naquele ponto que era tão suscetível à polícia, portanto não tinha quem o ajudasse no momento.
O menino pobre mandou comprarem jornal e lhe dessem as páginas com foto. Finalmente ele encontrou. A foto com a legenda dizendo que este - o menino rico - era o freqüentador ilustre da boate.
No outro dia o menino pobre reuniu a gangue e foi para aquela boate. Entrou sozinho para ter uma pequena conversa com o menino rico. Ao se encontrarem, o menino rico nem prestou atenção aos dizeres do menino pobre, afinal, ele era pobre, não tem nada o que falar além de pedir esmola, e como ele tinha entrado lá?
Os seguranças do menino rico pegaram o menino pobre a força e o levaram para fora. Lá, quando foram espancá-lo, foram fuzilados pela gangue. Nesse momento colocaram o plano em ação. Roubaram a todos e humilharam o menino rico, que chorava como uma criança, assim como o menino pobre chorou pela primeira vez quando foi humilhado.
O menino pobre não se contentou e matou o menino rico. Chegou a polícia e cercou o prédio da boate. Como o menino pobre já tinha realizado o seu sonho de infância - se vingar do menino rico - não pensou duas vezes e matou todos os reféns e trocou tiros com a polícia que como sempre, não teve como reagir.
O menino pobre saiu correndo com a gangue num carro, com todas as coisas roubadas. A polícia saiu correndo, mas não os alcançou.
O pai do menino rico, por ser rico teve apoio total da mídia, sendo assim o menino pobre totalmente repudiado. A polícia toda foi comovida à força pela mídia, pois todos eles temiam o menino pobre que se tornara muito poderoso com sua gangue. Mas o dinheiro do pai do menino rico contava mais, e cercaram toda a favela e fuçaram tudo, até encontrarem o menino pobre e matá-lo, divulgando depois na imprensa que ele foi vítima de bala perdida dos confrontos.
Caso encerrado...
Comentários
Big Kiss
Só ressalto uma coisa. Nem todo menino pobre quer aproveitar as parcas oportunidades oferecidas. Trab. em escolas públicas e em muitos casos não há interesse e nem preoucupação com o futuro.
Abraços