O discurso do senador Jefferson Peres (PDT-AM), esta tarde, na tribuna do Senado, conseguiu traduzir em palavras exatas a sensação que tenho hoje, quando vejo o presidente Lula liderando as pesquisas com folga, caminhando a passos largos para a vitória no primeiro turno.
Inconformado (como eu), o senador disse que, ao final de seu mandato, deixará a vida pública.
É verdade que nunca nutri sentimentos nobres por Lula. Não votei nele, e me orgulho disso. Porém, não quero aqui que este post pareça um pedido de votos para tucanos, pefelistas ou para Heloísa Helena. Muito para Jefferson Peres, que é candidato a vice na chapa de Cristovam Buarque. O que eu quero aqui é manifestar, assim como o senador amazonense, a minha náusea diante de tudo o que assisto todos os dias.
Após passarem anos e anos se dizendo detentores do monopólio da honestidade e da ética, parlamentares e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores, cujas atuações sempre foram marcadas pelo barulho, pelas críticas e pela teórica "defesa dos fracos e oprimidos", agora se viram, numa cara de pau jamais vista neste planeta, e dizem que a ética é uma coisa "relativa".
Em outras palavras isso quer dizer: quando os outros fazem, é corrupção. Quando os petistas fazem, é algo necessário para se conduzir a política brasileira. Mas, na avaliação deles, isso não lhes tira a condição de imaculados.
"Para mim chega. Não vou mais perder o meu tempo", desabafou o senador Jefferson Peres. "Como ter animação num país como esse, que tem um presidente que há meses atrás era, sabidamente, conivente com os piores escândalos de corrupção e esse presidente está marchando para ser eleito, talvez em primeiro turno? Não é desinformação. Votam nele, sabendo que ele sabia de tudo. Ele vai voltar porque o povo quer que ele volte. Eu me curvo à vontade popular, mas profundamente inconformado".
Este é outro trecho do discurso que traduz o meu pensamento a respeito: "Essa será uma das eleições mais decepcionantes da minha vida. É a declaração solene, pública, histórica do povo brasileiro de que desvios éticos de governantes não são importantes. E isso vem até da classe de intelectuais e artistas. Que episódio deplorável aquele no Rio de Janeiro! Artistas em manifestação de apoio ao presidente, com declarações cínicas, desavergonhadas. É a putrefação moral desse país."
Quem somos nós para falar de políticos corruptos, de condenar os escândalos no Congresso Nacional, se vamos eleger um nome que está diretamente ligado a boa parte das denúncias? Ou algum inocente aqui imagina que Luiz Inácio nada sabia sobre os esquemas de corrupção armados por José Dirceu? O braço direito do presidente faz uma série de irregularidades - que sempre foram amplamente combatidas quando o PT estava na oposição -, para favorecer justamente o governo e os projetos de Lula, mas o presidente de nada sabia.
Das duas, uma, e não tenho medo da afirmação que farei aqui: ou o presidente é um mentiroso contumaz ou ele é um perfeito débil mental. E não me venha ele com historinhas do tipo "Se às vezes as famílias não sabem o que acontecem dentro de casa, quem sou eu para saber o que se passa...?". Oras, meu caro Luiz Inácio, o senhor é nada mais, nada menos, que o Presidente da República. Se o senhor se prestasse a trabalhar um pouco, ficaria sabendo de tudo.
Mas o companheiro será reeleito. E todas as sujeiras que foram reveladas em seus quatro anos de governo passaram ilesas pela opinião da população. Ninguém mais se incomoda com a corrupção, com o dinheiro público sendo usado para fins criminosos, com todo tipo de maracutaia para se sustentar um esquema de poder absolutamente podre.
Se permitimos que sapateiem em cima de nossa cidadania desta forma, se achamos normal sermos tratados feito otários, se não reagimos à zombaria que fazem do nosso trabalho suado de todos os dias, se não somos capazes de nos dar valor, então admitimos a putrefação moral do País?
O que fizemos com a nossa capacidade de pensar? Continuamos achando que o patriotismo consiste em vestir a camisa da seleção a cada quatro anos, ficar comemorando gols e chorando derrotas? Será que é esta a idéia que temos do que é ser brasileiro?
Meus caros, eu não estou dizendo que outros candidatos deveriam ter mais votos, nem que eles são melhores ou mais honestos do que Lula. Eu não estou abrindo aqui esta discussão. A única coisa que eu esperava do povo era um mínimo de indignação. Imaginava uma reação popular, ainda que tímida. Não derrubamos Fernando Collor por muito menos que isso?
Admito, não esperava uma vitória arrasadora de um presidente que, segundo definiu muito bem o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL), confirmou que fará um governo de ladrões se vencer a eleição. "O perdão presidencial aos pecadores do PT e do governo soa como uma declaração espantosa".
Que me perdoem os eleitores de Lula, mas concordo com Jefferson Peres: "Parte da população, inclusive, compactua com a posição do presidente Lula de minimizar a corrupção em seu governo. Fazem isso porque são iguais a ele. Podem até chamar o Fernandinho Beira Mar e fazê-lo presidente. Não com o meu voto, pois estou encerrando minha vida pública daqui a quatro anos, profundamente desencantado".
Assim como o senador, eu também me curvo à vontade popular. E também profundamente decepcionada.
Inconformado (como eu), o senador disse que, ao final de seu mandato, deixará a vida pública.
É verdade que nunca nutri sentimentos nobres por Lula. Não votei nele, e me orgulho disso. Porém, não quero aqui que este post pareça um pedido de votos para tucanos, pefelistas ou para Heloísa Helena. Muito para Jefferson Peres, que é candidato a vice na chapa de Cristovam Buarque. O que eu quero aqui é manifestar, assim como o senador amazonense, a minha náusea diante de tudo o que assisto todos os dias.
Após passarem anos e anos se dizendo detentores do monopólio da honestidade e da ética, parlamentares e simpatizantes do Partido dos Trabalhadores, cujas atuações sempre foram marcadas pelo barulho, pelas críticas e pela teórica "defesa dos fracos e oprimidos", agora se viram, numa cara de pau jamais vista neste planeta, e dizem que a ética é uma coisa "relativa".
Em outras palavras isso quer dizer: quando os outros fazem, é corrupção. Quando os petistas fazem, é algo necessário para se conduzir a política brasileira. Mas, na avaliação deles, isso não lhes tira a condição de imaculados.
"Para mim chega. Não vou mais perder o meu tempo", desabafou o senador Jefferson Peres. "Como ter animação num país como esse, que tem um presidente que há meses atrás era, sabidamente, conivente com os piores escândalos de corrupção e esse presidente está marchando para ser eleito, talvez em primeiro turno? Não é desinformação. Votam nele, sabendo que ele sabia de tudo. Ele vai voltar porque o povo quer que ele volte. Eu me curvo à vontade popular, mas profundamente inconformado".
Este é outro trecho do discurso que traduz o meu pensamento a respeito: "Essa será uma das eleições mais decepcionantes da minha vida. É a declaração solene, pública, histórica do povo brasileiro de que desvios éticos de governantes não são importantes. E isso vem até da classe de intelectuais e artistas. Que episódio deplorável aquele no Rio de Janeiro! Artistas em manifestação de apoio ao presidente, com declarações cínicas, desavergonhadas. É a putrefação moral desse país."
Quem somos nós para falar de políticos corruptos, de condenar os escândalos no Congresso Nacional, se vamos eleger um nome que está diretamente ligado a boa parte das denúncias? Ou algum inocente aqui imagina que Luiz Inácio nada sabia sobre os esquemas de corrupção armados por José Dirceu? O braço direito do presidente faz uma série de irregularidades - que sempre foram amplamente combatidas quando o PT estava na oposição -, para favorecer justamente o governo e os projetos de Lula, mas o presidente de nada sabia.
Das duas, uma, e não tenho medo da afirmação que farei aqui: ou o presidente é um mentiroso contumaz ou ele é um perfeito débil mental. E não me venha ele com historinhas do tipo "Se às vezes as famílias não sabem o que acontecem dentro de casa, quem sou eu para saber o que se passa...?". Oras, meu caro Luiz Inácio, o senhor é nada mais, nada menos, que o Presidente da República. Se o senhor se prestasse a trabalhar um pouco, ficaria sabendo de tudo.
Mas o companheiro será reeleito. E todas as sujeiras que foram reveladas em seus quatro anos de governo passaram ilesas pela opinião da população. Ninguém mais se incomoda com a corrupção, com o dinheiro público sendo usado para fins criminosos, com todo tipo de maracutaia para se sustentar um esquema de poder absolutamente podre.
Se permitimos que sapateiem em cima de nossa cidadania desta forma, se achamos normal sermos tratados feito otários, se não reagimos à zombaria que fazem do nosso trabalho suado de todos os dias, se não somos capazes de nos dar valor, então admitimos a putrefação moral do País?
O que fizemos com a nossa capacidade de pensar? Continuamos achando que o patriotismo consiste em vestir a camisa da seleção a cada quatro anos, ficar comemorando gols e chorando derrotas? Será que é esta a idéia que temos do que é ser brasileiro?
Meus caros, eu não estou dizendo que outros candidatos deveriam ter mais votos, nem que eles são melhores ou mais honestos do que Lula. Eu não estou abrindo aqui esta discussão. A única coisa que eu esperava do povo era um mínimo de indignação. Imaginava uma reação popular, ainda que tímida. Não derrubamos Fernando Collor por muito menos que isso?
Admito, não esperava uma vitória arrasadora de um presidente que, segundo definiu muito bem o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL), confirmou que fará um governo de ladrões se vencer a eleição. "O perdão presidencial aos pecadores do PT e do governo soa como uma declaração espantosa".
Que me perdoem os eleitores de Lula, mas concordo com Jefferson Peres: "Parte da população, inclusive, compactua com a posição do presidente Lula de minimizar a corrupção em seu governo. Fazem isso porque são iguais a ele. Podem até chamar o Fernandinho Beira Mar e fazê-lo presidente. Não com o meu voto, pois estou encerrando minha vida pública daqui a quatro anos, profundamente desencantado".
Assim como o senador, eu também me curvo à vontade popular. E também profundamente decepcionada.
Comentários
Big Kiss
Águas, ainda hoje li uma tese mostrando que as pesquisas apontam o resultado que quem as contratarem quer. Porque seria inocência imaginar que essas pesquisas Ibope, Data Folha, Vox Populi e todas as outras, são feitas sem que alguém pague por elas e tenha interesse nos resultados, não é?
Bom post, Red's!