Pérolas

Primeira Pérola

" - Manhê, o que é êxe cabelinho em xima do xeu olho?" - (tecla SAP: " - Mãe, o que é esse cabelinho em cima do seu olho?") - pergunta Vítor, meu caçula de, então, 3 aninhos.

" - São as sobrancelhas."

" - Ah... Branxelhas!" (Tecla SAP: " -Ah... Brancelhas!") - responde ele feliz com mais uma palavra nova em seu vocabulário.

" - Não, meu filho, mamãe disse Sobrancelhas" - respondo eu, na tentativa de ensinar-lhe a palavra corretamente.

" - E o que foi que eu dixe? Xuôa Branxelha!" (Tecla SAP: " - E o que foi que eu disse? Suôa Brancelha!")

Nem tentei uma segunda vez, não adianta argumentar o que, de fato, não deixa de ser lógico. Afinal, a brancelha é minha. A sua deve ser "suabrancelha"!!


Segunda Pérola

"- ManhêêÊÊ, eu não quelo carninha... Num quelo, num quelo!!" - Diz Vitor na vã tentativa de escapar do horário nobre do jantar para poder continuar a fazer peripécias pela casa, vulgo, tocar um terror!

" - Nada disso, se não comer carninha, vai ficar pequenininho. Aliás, não vai ser só pequenino, vai ser fraquinho e..." - Sou bruscamente interrompida com uma pergunta quase que melodramática, num tom de revolta, absurdo e perplexidade:

" - Voxê me chamou do quê? VOXÊ me chamou do QUÊ?!!!" - sendo esse do quê quase que esganiçado, com as veias saltando do pescoço.

" - Eu disse que você ia ficar fraquinho, pequenininho e..." - Fui interrompida de novo...

" - Não, voxê me chamou de aliás... ALIÁS!!!" E saiu revoltado da mesa, batendo os pés, indo chorar na cama do irmão.


Terceira Pérola

Tentando ver a TV, mais precisamente, uma reportagem sobre a educação e, sendo esta, mais focada nas crianças que sofreram aquela barbárie na Rússia, Vítor pára por uns instantes de tentar superar a voz do âncora e olha fixamente para uma criança que chora. Notei que seus olhos eram um misto de curiosidade e pena e que, ficavam indo e vindo, da TV para meu rosto, do meu rosto para a TV, talvez buscando uma resposta para aquelas cenas, infelizmente, relembradas e que dão IBOPE para um assunto bem mais ameno como estudar, aprender, etc.

Como ninguém emitia um comentário, sequer, ele mesmo resolve falar sobre o assunto:

" - Manhê, o menininho tá cholando, né..."

" - Sim, meu filho. Ele está triste!" - disse sem entrar em muitos detalhes...

" - Mas ele num tá na escola? Eu num cholo quando vou pala a escola, eu gosto de lá, tem tia Vônia (Vânia) tem meus amigos, o Luca, o Inhã (Ian), a Camila, a Giovanna, a Calol, a Duda e o Iuli (Iuri), mas ele me bate muito e eu nem cholo!"

Nisso, a professora da escola russa fala com as crianças, em russo é claro, e Vítor tira sua conclusão para o choro do menino:

" - Eu também ia cholar, eu num entendi nada do que ela falou e ela é feia, palece Bluxa!!"

Só pude levantar minha Brancelha e rir... Aliás, como eu ri!!!


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Por essas e outras é que eu prefiro acreditar que o Mundo, ainda, tem uma chance de se redimir. É preciso, contudo, dar amor as crianças e conservar, o máximo possível, sua inocência. Nossas crianças, e quando digo "nossas" leia-se no Brasil, na Rússia, no Iraque, na Nigéria, tem o direito inalienável de viver uma infância feliz, sem medos, sem dores ou preconceitos. Elas precisam de um mundo menos sofrido e onde reine a paz e a esperança!

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