Sou uma pessoa que, por natureza, sonha e crê nesses sonhos. Não adianta tentar mudar meu jeito de ser, mesmo sabendo que sofro à cada decepção pois, quando olho para trás e penso nos bons momentos vividos, todas as tempestades se dissipam e a felicidade volta a reinar.
A vida nos tornou mecânicos, sem tempo de ser. Precisamos ter, estar e acontecer. Fazer, é uma coisa técnica, não requer prática nem habilidade, basta um estalar de dedos ou um clicar de teclas e pronto, os problemas estão resolvidos ou em andamento para tal. Mas, e ser, quanto tempo demanda e o que está por trás deste ato?
Nesta corrida diária para matar nosso leão, estamos nos distanciando de pequenos detalhes que nos fazem falta, mas que mal temos tempo de perceber. Um pôr ou nascer de sol, um sorvete de casquinha que escorre por entre os dedos, um pingo do mesmo sorvete na ponta do nariz, uma gargalhada gostosa, um bate-papo informal, um encontro casual, um passeio de mãos dadas, uma noite na penumbra tendo como tema de fundo uma música suave. Quem, nos últimos meses, parou para olhar um jardim, ver uma flor diferente, quem sabe, colher uma concha na areia da praia ou sentar-se na mesma areia para olhar o ir e vir do mar?
Amigos, estes se tornaram quase virtuais pois, não nos sobra muito tempo de estar com eles, que dirá, ser amigo deles! Não telefonamos com a mesma frequência da adolescência, o que nos custou tantas brigas com nossos pais, por ocasião do recebimento das contas! Não os visitamos pois, a violência, o medo, a preguiça e o cansaço nos fazem ser, por opção, "caseiros". Não os convidamos à nossa casa porque teremos que oferecer algo e fazer este algo nos toma um tempo que não temos para dispor, uma obrigação que transformará, o que antes seria alegria, num enorme problema! E, assim, cada vez mais, nos tornamos solitários e vagas lembranças de fatos vividos, um dia, quando tinhamos todo o tempo do mundo como aliado e o prazer como fonte de alegria.
Minha mãe recebeu, esta semana, três grandes amigas e a pauta da conversa foi o passado e as deliciosas recordações de uma época em que todas trabalhavam, eram donas de casa, tinham suas vidas e nem por isso, deixavam que as atribulações do dia-a-dia as mantivesse unidas, como estão até hoje, apesar da distância e da idade. Sempre se falam ao telefone, sabem detalhes, quem morreu, quem nasceu, relembram fatos e são felizes, mesmo constatando que essa atitude nada mais é que um atestado de estar envelhecendo. O ato de recordar o passado é isso, saber que se está ficando velho e que o vivido não volta.
Me peguei pensando, o que farei, daqui há alguns anos. Quantos amigos terei que me telefonarão, se já não os tenho hoje! Amizade é como uma flor, precisa receber o alimento, a água, se desejar sobreviver. Ela é via de mão dupla. Se não ligo, não me ligam. Se não me ligam, não ligo. Mas, a vida de hoje é diferente da de ontem que será bem menos complicada que a de amanhã. Será que justifica? Será que terei com quem lembrar os risos dados, as falhas, as conquistas, as farras, as festas, a vida, que está passando por mim, sem eu me dar conta? Será que eu cheguei a viver isso tudo ou, apenas, sonhei?
Uma coisa é certa: hoje, nem que seja só hoje, vou parar por algumas horas e não vou pensar nas consequências ou perdas que isso possa implicar. Vou ligar para minhas amigas, vou ver meus filhos crescerem assim como as orquídeas no meu jardim. Vou ouvir a minha canção predileta, uma, duas, quantas vezes eu sentir vontade e vou cantá-la até ficar rouca, sem me importar com que os vizinhos irão pensar. Vou prestar atenção se os passarinhos estão construindo ninhos perto do meu quarto, naquela árvore que cresceu e que nem percebi. Vou olhar para minha mãe, aproveitar cada fio de seus cabelos brancos, ouvir as mesmas histórias sobre minha infância, onde ela acalentou tantos sonhos que eu não tive peito e tempo de realizar. E, por fim, vou guardar tudo isso na memória do meu coração. Um dia, quem sabe, essa caixa de recordações se abre e comenta: "- Lembra daquele dia em que fomos felizes?!"
*****************
Esse texto foi escrito em homenagem a uma mulher que conheci menina, que estudou e cresceu comigo, que se fez médica, esposa, mãe e que, de repente, sem ninguém saber o quê e o porquê, se enforcou Quarta-feira passada e cujo corpo foi encontrado pelo seu único filho, adolescente... Cristiane, seja lá o porquê, descanse em paz!
A vida nos tornou mecânicos, sem tempo de ser. Precisamos ter, estar e acontecer. Fazer, é uma coisa técnica, não requer prática nem habilidade, basta um estalar de dedos ou um clicar de teclas e pronto, os problemas estão resolvidos ou em andamento para tal. Mas, e ser, quanto tempo demanda e o que está por trás deste ato?
Nesta corrida diária para matar nosso leão, estamos nos distanciando de pequenos detalhes que nos fazem falta, mas que mal temos tempo de perceber. Um pôr ou nascer de sol, um sorvete de casquinha que escorre por entre os dedos, um pingo do mesmo sorvete na ponta do nariz, uma gargalhada gostosa, um bate-papo informal, um encontro casual, um passeio de mãos dadas, uma noite na penumbra tendo como tema de fundo uma música suave. Quem, nos últimos meses, parou para olhar um jardim, ver uma flor diferente, quem sabe, colher uma concha na areia da praia ou sentar-se na mesma areia para olhar o ir e vir do mar?
Amigos, estes se tornaram quase virtuais pois, não nos sobra muito tempo de estar com eles, que dirá, ser amigo deles! Não telefonamos com a mesma frequência da adolescência, o que nos custou tantas brigas com nossos pais, por ocasião do recebimento das contas! Não os visitamos pois, a violência, o medo, a preguiça e o cansaço nos fazem ser, por opção, "caseiros". Não os convidamos à nossa casa porque teremos que oferecer algo e fazer este algo nos toma um tempo que não temos para dispor, uma obrigação que transformará, o que antes seria alegria, num enorme problema! E, assim, cada vez mais, nos tornamos solitários e vagas lembranças de fatos vividos, um dia, quando tinhamos todo o tempo do mundo como aliado e o prazer como fonte de alegria.
Minha mãe recebeu, esta semana, três grandes amigas e a pauta da conversa foi o passado e as deliciosas recordações de uma época em que todas trabalhavam, eram donas de casa, tinham suas vidas e nem por isso, deixavam que as atribulações do dia-a-dia as mantivesse unidas, como estão até hoje, apesar da distância e da idade. Sempre se falam ao telefone, sabem detalhes, quem morreu, quem nasceu, relembram fatos e são felizes, mesmo constatando que essa atitude nada mais é que um atestado de estar envelhecendo. O ato de recordar o passado é isso, saber que se está ficando velho e que o vivido não volta.
Me peguei pensando, o que farei, daqui há alguns anos. Quantos amigos terei que me telefonarão, se já não os tenho hoje! Amizade é como uma flor, precisa receber o alimento, a água, se desejar sobreviver. Ela é via de mão dupla. Se não ligo, não me ligam. Se não me ligam, não ligo. Mas, a vida de hoje é diferente da de ontem que será bem menos complicada que a de amanhã. Será que justifica? Será que terei com quem lembrar os risos dados, as falhas, as conquistas, as farras, as festas, a vida, que está passando por mim, sem eu me dar conta? Será que eu cheguei a viver isso tudo ou, apenas, sonhei?
Uma coisa é certa: hoje, nem que seja só hoje, vou parar por algumas horas e não vou pensar nas consequências ou perdas que isso possa implicar. Vou ligar para minhas amigas, vou ver meus filhos crescerem assim como as orquídeas no meu jardim. Vou ouvir a minha canção predileta, uma, duas, quantas vezes eu sentir vontade e vou cantá-la até ficar rouca, sem me importar com que os vizinhos irão pensar. Vou prestar atenção se os passarinhos estão construindo ninhos perto do meu quarto, naquela árvore que cresceu e que nem percebi. Vou olhar para minha mãe, aproveitar cada fio de seus cabelos brancos, ouvir as mesmas histórias sobre minha infância, onde ela acalentou tantos sonhos que eu não tive peito e tempo de realizar. E, por fim, vou guardar tudo isso na memória do meu coração. Um dia, quem sabe, essa caixa de recordações se abre e comenta: "- Lembra daquele dia em que fomos felizes?!"
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Esse texto foi escrito em homenagem a uma mulher que conheci menina, que estudou e cresceu comigo, que se fez médica, esposa, mãe e que, de repente, sem ninguém saber o quê e o porquê, se enforcou Quarta-feira passada e cujo corpo foi encontrado pelo seu único filho, adolescente... Cristiane, seja lá o porquê, descanse em paz!
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