Muito Prazer, Urubulina!

Sabe quando você não pega gripe, resfriado e nem "encosto"?
Sabe quando você está se vestindo, pela manhã, correndo contra o tempo e sua blusa está sem botão e sua calça rasgadinha no fundo e, ao procurar agulha e linha, descobre que não tem a cor, exatamente aquela da sua roupa e nem mesmo um raio de um botão do tamanho da casa?
Sabe quando, depois de trocar toda a roupa, anteriormente, planejada por outra que esteja "completa e inteira", você vai fazer a maquilagem e o rímel borra todo o seu olho que, pudera, está inchado de sono de mais uma noite mal dormida?
Sabe quando você vai limpar o olho e suja a mão que, em seguida, esbarra na calça e na blusa que já foi um parto combinar, isso sem falar que você derrubou o vidro de rímel na pia e ainda tem que limpar?
Sabe quando você, depois de três, isso mesmo, uma, DuassSS, TRÊS trocas de roupa, coloca uma blusa branca e vai tomar um café expresso (não o de sabor expresso, mas o de velocidade expressa, diria vertiginosa, devido à pressa) e derrama o dito cujo na mal-fadada blusa e, além de se sujar toda, ainda se queima?
Sabe quando você vai procurar o seu sapato preto e só encontra o marrom que não combina com a roupa que você conseguiu, à duras penas, vestir naquele dia?
Sabe quando você sai de casa e esquece a chave na porta e descobre isso depois que bate a maldita?
Sabe quando você passa e dá aquele sorriso "espontâneo" de Bom dia para o porteiro e ele olha pra você com aquela cara de quem está analisando sua endumentária de cima abaixo, tal qual um expert em moda?
Sabe quando você fica com a pulga atrás da orelha depois que o porteiro olhou daquela forma e começa a procurar rasgo, botão caído, mancha, amassado, ver se não calçou um sapato de cada cor, essas coisas que podem acontecer com qualquer mortal, mas que aconteceram com você, naquele dia, desde que acordou?
Sabe quando você na tentativa de desviar de um buraco, consegue se esgueirar pela beirada da calçada e, de repente, como do nada, surge um carro na rua e passa, em alta velocidade, bem em cima de uma poça de água de um cano que arrebentou e, detalhe mórbido, tendo outras tantas trezentas pessoas na rua, só você é molhado?
Sabe quando você desvia de outro buraco e pisa no cocô do cachorro?
Sabe quando você pára distante da árvore que lhe daria aquela sombra agradável, depois dessa jornada até o trabalho e o passarinho, antes de pousar na bendita, faz aquele cocozinho básico matinal no seu ombro e você se sente o banheiro do mundo animal?
Sabe quando está perto, ao lado, quase que batendo de frente com o seu destino final e o salto do seu sapato quebra e você começa a caminhar que tá raso, que tá fundo, porém, com uma classe e uma naturalidade ímpar de quem só passou por outras "pequenas" situações adversas, naquele dia, consegue fazer?
Sabe quando você chega no trabalho e encontra a mensagem de que a pessoa que iria lhe ajudar, a sua secretina, não vem por uma semana?
Sabe quando você cai dentro do trabalho e vem seu chefe, joga uma pilha de papéis na sua mesa e diz, isso é para antes de ontem porque o de ontem, você ainda está fazendo, fora o de hoje e o de amanhã que você pretendia passar para sua ajudante (ou seria atrapalhante)?
Sabe quando você chama o boy e pede o favor pessoal de lhe pagar uma conta, pega a bolsa para fazer o cheque e descobre que já usou a última folha e, com isso, vai ter que pagar juros?
Sabe quando você não tem dinheiro no Banco para pagar aquela conta, que dirá os juros?
Sabe quando você tem vontade de chorar e, até, chora e descobre que borrou o maldito RÍMELLLLLLL?
Sabe quando você sai tarde do trabalho e perde o ônibus, depois a barca para Niterói e, quando chega em Niterói, perde mais um ônibus, o que implica no fato de chegar em casa quase que na hora de sair no dia seguinte?
Sabe quando você, finalmente, consegue driblar tudo e todos e chega em casa, depois desse dia, extremamente, atípico e escuta que você é distraída e precisa ficar mais ligada porque esqueceu a chave na porta e ainda fica mal humorada porque estão lhe "ajudando", quanta ingratidão(!)?
Sabe quando urubu de baixo faz no de cima?

Pois é, muito prazer, Urubulina!!!

Sim, esse é o nome dela e essa foi a sua "odisséia" de um dia só!! E quem disser que isso é inferno astral, bem, pode até ser! Afinal, do jeito que as coisas andam, até o inferno astral resolveu dar uma sacaneada e chegou com meses de antescedência! Tenho pena dele, afinal, ele vai se ferrar! Se pensa que vai pegar sol, ter mordomia, está redondamente enganado. Sobre a cabeça de Urubulina, paira uma nuvem, daquelas sujeitas a chuvas fortes, raios duplos, tempestades com ventos, essas coisas. Se eu fosse ele, ia acampar em outras bandas e a deixava só, quieta no seu canto, ela e seus urubuzinhos de estimação!!!! Mas, fiquem frios. Como eu disse, o negócio é com a Urubulina! Não tem contra-indicação e nem é contagioso! O máximo que pode acontecer é você se inspirar no humor-negro dela e resolver fazer concorrência. E, do jeito que as coisas andam, é bem capaz dela perder...!!!