Se no particular é assim, imaginem no popular?

Ontem passei um dia de cão. Fui cedo para um hospital particular, que fique bem claro, para socorrer minha mãe. E fiquei chocada com as cenas presenciadas e atitudes que fui obrigada a tomar em resposta às que sofremos. A moral dessa história é cada um por si e Deus que nos ajude!

Primeiro, não existem mais ambulâncias. Ou se tem plano de saúde para solicitar uma e se torcer que tenha disponibilidade ou se morre no caminho. Venci à morte e a falta de ambulâncias, chegando ao hospital como uma sobrevivente, mendigando por um atendimento de emergência. Empurra daqui, passa papelada pra lá e pra cá e, finalmente, consigo que minha mãe seja internada.

A pobre estava de jejum desde às 21:00 horas da noite anterior e o exame principal só poderia ser feito às 12:30, porque o médico não atende às Segundas e estaria me fazendo um favor em vir examiná-la de emergência. Enguli o sapo e fiquei esperando. Fizeram dois exames extras e nada de dar 12:30. Finalmente, é chegada a hora... E passada a hora! Meia hora depois, me dirijo à sala do excelentíssimo doutor que faria a "gentileza" de me prestar socorro e escuto que ele não havia chegado e outras pessoas, para mostrar exames, estavam na frente de uma emergência... Argumentei, no início, pacientemente, mas sentindo meus dedos formigarem, loucos, para pularem num pescoço qualquer.

Volto para o quarto e encontro minha mãe com o soro entupido. Corro atrás da enfermagem e esta chega dando bronca porque as veias de minha mãe são finas demais e não seria fácil encontrar nova. Quase perguntei como fazer uma reclamação oficial à Deus ou aos pais dela por esse problema genético, mas resolvi, pelo bem dela, ficar calada. Olhei, apenas, nos olhos da enfermeira e nem precisei dizer uma palavra, esta calou-se e com o rabo entre as pernas, tratou de recuperar a veia perdida, antes que perdesse os dentes.

Uma hora mais passada, nada de exame. Volto e escuto uma secretária-eletrônica, só que ao vivo, de carne, osso, desumana e à cores, dizendo aquela frase chavão:

- O médico já está na casa, estamos tomando todas as "providênças" necessárias para que o exame "seje" feito o mais rápido possível. Por favor, volte para o quarto e aguarde.

Aquilo me subiu à cabeça. Cresci mais uns 10 cm mais do que já tenho e vi que a secretária se encolheu na cadeira.

- Escuta, se vocês estão tomando providências, café, ou coisa que seja mais do agrado de vocês, a mim, não interessa. Quero, exijo, que o exame comece e já! Deu para entender? Fui clara ou preciso ser mais explícita, se é que você sabe o que eu quero dizer com essa palavra?

E escuto:

- Senhora, por favor, retorne ao seu quarto que todas as "providenças" estão sendo tomadas.

Voltei, antes que ela tomasse um tapa no pé da orelha. Em suma, a maca para remover minha mãe apareceu no quarto 3 horas depois do marcado e, de quebra, ficamos 40 minutos na sala de espera, entre gemidos e gritos dos pacientes saídos de outros exames e papos alegres e cheios de graças sobre o fim de semana da enfermagem de plantão. Dei um murro na porta.

- Escuta aqui, se a mãe de vocês está bem, na zona, a mim, não importa. A minha está sofrendo na sala ao lado e perguntando se alguma de vocês conhece o significado de compaixão, humanidade, coisas simples e básicas, mas que neste hospital não me parece ser, habitualmente, praticado? Resumindo, caso não tenham entendido, vão fazer esta p... de exame agora ou eu vou ter que sair quebrando tudo até chamar a atenção?

Aí, num passe de mágica, surgem o médico, o anestesista, a ajudante, e não é que o exame foi feito? Ou seja, o negócio é berrar.

Exame feito, pensei, vão finalmente alimentar minha mãe, cuidar dela, dar alta, qualquer coisa. Mas, não. Ficamos jogadas no quarto, esquecidas. Ligo para o médico (ir)responsável e este disse que passaria pelo hospital mais tarde para ver os exames e, dependendo, liberaria a alta. Num grito esganiçado, eu disse, ou melhor, bradei:

- Dependendo uma ova. Aqui eu não fico!

Quando o infeliz chegou, quase 18:00 horas, nada havia mudado. Os exames, pelo menos, não deram nada de significativo, o que por um lado é bom, mas por outro nos leva à estaca zero. Ela vai continuar passando mal, eu vou continuar correndo atrás de solução e todos do hospital estarão torcendo para se livrarem de mim o mais breve possível.

Alta dada, facada dos custos da visita, literalmente, de médico feita, vou eu pedir uma cadeira de rodas para levar minha mãe, exausta e se sentindo uma Maria Ninguém, de volta para casa. Uma hora para que a cadeira de rodas saísse do segundo andar e chegasse ao primeiro, onde estávamos. Nesse meio tempo, muito desaforo dito, dois defuntos passando na minha frente, uma emergência na unidade coronariana, que ficava do meu lado, me fazendo relembrar os últimos dias de meu pai, ou seja, foi a hora mais longa de todo o meu dia!

Ao chegarmos em casa, com muita dificuldade, vejo a reportagem do Jornal Nacional que falava sobre as filas intermináveis e o descaso do INSS para com a população brasileira. O Ministro, sósia ou irmão gêmeo do Bussunda, dizendo que não se tratava de falsa promessa ou excesso. Mas, sim, uma realidade! Finalmente, o povo seria tratado como merece! Só que a realidade, meses após a entrevista, é outra. O povo dormindo nas ruas, suplicando atendimento. Isso, porque somos descontados, mensalmente, para termos o direito. Contudo, só temos a obrigação. Direito que é bom, nem pelo SUS, nem pelo INSS, nem mesmo pelo Particular. Isso é ser tratado como merecemos!

Minha revolta foi tanta que hoje sinto as sequelas de não ter dado uns socos para extravasar a raiva e o descaso sofridos. Minha ânsia de justiça é tamanha que fico perguntando por que pessoas seguem profissões como a Medicina e a Enfermagem se tratam o ser humano como se fosse mais um. Tudo bem que se a pessoa se apega ao doente, sofre como ele, com ele e por ele. Mas, também, tratá-lo como um pedaço de nada, sem sentimentos, sem respeito, isso não me desce a goela!

Me desculpem o texto enorme em forma de desabafo, tanto que, para poupá-los, estarei escrevendo só esse. Mas, pelo menos, dentre mortos (dois), feridos (alguns) e ilesos, eu e minha mãe nos salvamos e queremos, com a ajuda de Deus, ficar o mais distante possível de hospitais, sejam Públicos ou privadas... ops, ato falho... Privados!

Comentários

maresia disse…
eu imagino que não seja suposto, mas não pude deixar de rir... quanto a deus, acho que nem ele nos acode nos hospitais deste mundo...