Mônica conquista uma aventura milionária

O próximo longa-metragem da Turma da Mônica, Uma Aventura no Tempo, será uma produção como nunca se viu em animação brasileira. Quatro pesos pesados da indústria cinematográfica brasileira trabalham no projeto desde o fim do ano passado e o filme deve chegar aos cinemas em dezembro. Além de Mauricio de Sousa, o "pai" da personagem e de seus amiguinhos, estão associados o produtor Diler Trindade (dos filmes de Xuxa, dos Trapalhões e os dirigidos por João Falcão, A Máquina e Fica Comigo Esta Noite), o Labocine (que criou uma Divisão Digital com 64 animadores) e a Miravista, braço latino-americano da distribuidora Buenavista, da Disney. A primeira amostra é o trailler que já está em exibição nos cinemas.
"Montamos o estúdio para Xuxinha e Guto contra os Monstros do Espaço, nosso primeiro filme de animação. Como não podíamos ficar ociosos, já que o investimento foi de US$ 1 milhão (R$ 2,2 milhões), convidamos Mauricio de Sousa para conhecer nosso trabalho e ser nosso parceiro", conta Diler Trindade. "Há pouca tradição de filmes de animação no Brasil e, por isso, pouco público. Xuxinha teve 500 mil espectadores e as outras experiências após a retomada, Um Grilo Feliz e Cine Gibi, do próprio Mauricio de Sousa, fizeram pouco mais da metade disso cada um. É preciso acostumar o público a ver animação brasileira, criar o mercado."
Mauricio de Sousa precisava, com urgência, encontrar um grande estúdio que produzisse o suficiente para atender às demandas no Brasil e no exterior. De cara, foi seduzido pela proposta e pelos animadores do Labocine. "São jovens e foram alfabetizados com as revistas da Mônica. Cuidam do meu trabalho com um carinho enorme. Sempre acho que o meu melhor filme é o mais recente, mas aqui há uma troca interessante. A partir da colaboração deles, tenho novas idéias", diz. Trabalhando com brasileiros, ele resolveu seu maior problema de produção. "Tentei um estúdio em Xangai e os personagens voltaram com cara de Mickey Mouse, pois Disney é a referência deles. Com esses meninos brasileiros, não preciso explicar nada porque falamos das mesmas coisas."
A história foi criada por Flávio de Souza e Mauricio de Sousa, também diretor do filme. Franjinha cria a máquina do tempo, mas Mônica, numa briga com Cebolinha e Cascão, atinge o invento com seu coelho e cada um tem de partir para uma época em busca dos quatro elementos (terra, fogo, água e ar) e se espalham pelos tempos afora. Com isso, eles voltam à Idade da Pedra, ao tempo dos bandeirantes e para poucos anos atrás, quando Mônica era recém-nascida. "Há um recado ecológico, informações históricas, vilões e mocinhos, mas o objetivo é divertir as crianças", adianta Mauricio. Ele mandou esboços dos personagens e dos storyboards (desenhos das cenas) e, recentemente, quando foi visitar o Labocine e conferir o trabalho inicial, ficou tão encantado que desenhou cada personagem agradecendo.
Para os desenhistas, um filme da Mônica é um sonho de infância. O decano deles tem 63 anos e o caçula, 18, mas a média de idade é 25 anos, todos autodidatas, já que não há curso de formação de animadores, só alguns de curta duração e um mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "Tem um que começou a desenhar por influência da mãe, que via a revistinha e falava que esse seria seu trabalho, outro foi previsão de uma cartomante e um terceiro, que desenhava a Mônica em papel vegetal", enumera o coordenador da equipe, Cleverson Saremba. "Cada um de nós, desde criança, tínhamos uma história inventada sobre a Mônica. Este filme nos permite colocá-las na película."
Mauricio é só sorrisos para a equipe e só não gosta que digam que A Turma da Mônica em Uma Aventura no Espaço é filme infantil. "É para todas as idades", retruca. Diler concorda porque as cifras são de gente grande. A produção está nas Leis Rouanet e do Audiovisual com orçamento de R$ 6,8 milhões, sendo R$ 1,7 milhão só para o lançamento. Deste total, R$ 3 milhões vêm da Buena Vista, também dinheiro incentivado, e Diler Trindade ainda busca patrocinadores para as outras cotas, embora o trabalho esteja adiantado. "São 10 ou 12 meses de produção, um recorde. Mesmo nos Estados Unidos, levam-se dois ou três anos para se fazer um longa de animação", explica ele.
Mauricio de Sousa já prepara a carreira do filme no exterior. O trailer que está no cinema será mostrado na Feira de Literatura Infantil de Bolonha, na Itália, a maior do mundo. Mônica, afinal, viaja pelo mundo. Os desenhos para televisão estão em 40 países, pelos canais Rai 2 (italiano) e Cartoon Network (americano). As tirinhas são publicadas em jornais de 15 países e as revistas têm tiragem mensal de 2 milhões de exemplares. A sociedade com Diler pode virar uma franquia, como os Trapalhões e a Xuxa. "É tudo o que eu quero", garante Mauricio de Sousa. "Já estamos pensando no segundo filme da série", avisa o produtor. "Quem sabe, no futuro, até dois por ano?"
O Estado de São Paulo

Fernanda comenta
Eu sempre amei as histórias do Maurício de Souza! Aprendi a ler sozinha com a Mônica, o Cebolinha, o Cascão, a Magali e a turma toda! Será mais um desafio para os Estúdios Maurício de Souza e, com certeza, mais um trabalho brilhante!

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