"Crianças Invisíveis" é filme coletivo internacional, com Spike Lee e Kátia Lund

A dramática situação das crianças no mundo foi o motivo do esforço dos produtores italianos Chiara Tilesi e Stefano Veneruso para montar "Crianças Invisíveis", projeto cinematográfico coletivo, assinado por oito diretores, incluindo uma brasileira, Kátia Lund.
Lund, co-diretora de "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, dirigiu "Bilu & João", filmado nas ruas de São Paulo.
De todos os segmentos, este é talvez o que consegue imprimir mais doçura, mantendo aberta uma janela de esperança para os dois pré-adolescentes interpretados por Vera Fernandes e Francisco Anawake, que sobrevivem de um duro trabalho -- catar nas ruas restos de papelão e metal.
Sem pieguice, a brasileira firma um dos traços marcantes deste trabalho coletivo -- crianças são crianças e mantêm uma inabalável disposição para sonhar e resistir, por mais que as condições em torno delas sejam tantas vezes quase insuportáveis.
Com realismo, porém, o episódio delineia um quadro de pobreza urbana em que existem ainda muitas formas de intervenção possíveis.
Os demais segmentos do longa-metragem trazem também a marca de seus realizadores. Fazendo jus à sua fama de polêmico, o diretor norte-americano Spike Lee assina um dos mais contundentes, "Jesus Children of America".
A protagonista é Blanca (Hannah Hodson), de 13 anos, que é lançada dentro de um verdadeiro pesadelo devido ao fato de ser portadora do vírus HIV. Por conta disso, é discriminada na escola, chamada de "AIDS baby". Político como sempre, o diretor retrata o personagem do pai da menina como um veterano da Guerra do Golfo que se tornou viciado em heroína e, por isso, contraiu a doença.
Uma família disfuncional persegue o protagonista do episódio "Ciro", do italiano Stefano Veneruso (um dos produtores). Ciro (Daniele Vicorito) é um adolescente que deixou para trás pais negligentes e passou a sustentar-se através do roubo nas perigosas ruas de Nápoles.
O universo de menores infratores figura igualmente no ambiente de "Blue Gypsy", do diretor bósnio Emir Kusturica. Atenuando o estereótipo de tantas histórias sombrias no cenário dos reformatórios, Kusturica inventa um protagonista, o menino Uros (Uros Milovanovich), que não quer sair dali, pois sente-se curiosamente protegido nesta situação. Fora de seus muros, sabe que o pai o forçará novamente a roubar.
Muito mais drástica é a situação dos garotos do episódio "Tanza", o único ambientado na África, e dirigido pelo argelino Mehdi Charef.
Ele opta por um registro naturalista e, sem identificar o país, constrói uma história dolorosamente comum aos quatro cantos do continente africano, onde guerras civis colocam armas nas mãos de milícias juvenis. No cabo da metralhadora de um destes meninos, vê-se um adesivo com o rosto de Ronaldo, o fenômeno do futebol brasileiro.
Num tom inteiramente distinto de seu estilo, o famoso diretor de filmes de ação chinês John Woo assina o episódio "Son Son & Little Mão". Filmada na China, a história expõe a aguda diferença social entre duas garotinhas da mesma idade, uma rica e outra órfã, vendedora de flores nos faróis de uma metrópole.
O episódio mais atípico é "Jonathan", dos ingleses Jordan Scott e Ridley Scott (ela, filha do famoso diretor Ridley). Um fotógrafo de guerra (David Thewlis) vive assombrado pelo horror das situações que retratou em conflitos e encontra a salvação de sua alma numa fantasia em que revisita a si mesmo quando menino. Um sentimento que poderá, afinal, contagiar os espectadores deste filme delicado e fundamental.
O longa recebeu o apoio da atriz Maria Grazia Cucinota (a musa de "O Carteiro e o Poeta") e da UNICEF e WFP (World Food Program). A renda do filme será revertida em favor destas duas organizações, ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU). O longa estréia em todo país nesta sexta-feira, em cerca de 20 cópias.
UOL

Fernanda comenta
Esse filme vai dar o que falar! Faz tempo que estávamos precisando de um filme assim!

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