A nova temporada de 'The Boys' é ainda melhor que a primeira. (Trailer)

A produção baseada na série de quadrinhos do norte-irlandês Garth Ennis não tinha nada a perder e em agosto de 2019 chegou botando o pé na porta. Conquistou uma legião de fãs mundo afora com seu humor ácido, critico, escatológico e sombrio, que brinca com o universo dos super-heróis.

Mas aí veio 2020, e com esse ano maldito, grandes expectativas pesavam nas costas de Eric Kripke (também criador de Supernatural). Como superar uma temporada ultrajantemente engraçada e extremamente bem-sucedida? A chance de chocar zero pessoas era enorme.

A solução foi a melhor - e talvez única - possível: politizar.

É claro que The Boys não poderia deixar de lado sua marca registrada, sequências de extrema violência gráfica permeadas por um humor sarcástico e afrontoso. A série continua fazendo isso, mas apostar apenas nessa característica seria dar ao público mais do mesmo. 

Em seus quatro primeiros episódios (de um total de oito) a sensação que fica é exatamente essa, e isso não é de todo mal, mas da metade para o final, a segunda temporada de The Boys deslancha de tal forma, que é difícil não colocá-la entre as melhores coisas que a TV americana produziu neste ano.

Não podemos revelar quase nenhum detalhe da trama porque a Amazon nos processa (algo bem americano, aliás), mas é a partir desse trecho da história que um novo personagem passa a personificar o espírito do ódio trumpista envolto naquele complexo de super-herói tão enraizado na psiquê norte-americana.

Do pouco que nos é permitido revelar, Hughie (Jack Quaid), Mother’s Milk (Laz Alonso), Frenchie (Tomer Capon) e Kimiko (Karen Fukuhara) tentam se ajustar a uma nova realidade de foragidos da justiça e sem a liderança de Billy Butcher (Karl Urban), que segue desaparecido.

Enquanto isso, Starlight (Erin Moriarty) procura uma forma de combater a Vought de dentro do conglomerado depois da descoberta do Composto V. Mas ela terá de enfrentar o ainda mais poderoso Homelander (Antony Starr), que assumiu de vez o controle do time de super-heróis The Seven. Mas o seu reinado pode durar pouco com a chegada da poderosa e desbocada Stormfront (Aya Cash), uma nova Super especialista em se promover pelas redes sociais.

Imagine se aqueles supremacistas brancos que marcharam com suas tochas e bandeiras confederadas em Charlottesville tivessem superpoderes? Uma ideia tão absurdamente plausível na América de Trump que faz o assustador vilão da primeira temporada, o Homelander, ser tão ameaçador quanto um gatinho felpudo.

Ao se conectar mais diretamente com as questões do mundo real, como racismo, xenofobia, fake news e discursos de ódio em geral, The Boys ganha estofo, deixando de ser apenas uma divertida provocação para ganhar um status que pode ser até (por que não) comparável ao de Watchmen, outra série excepcional que utiliza um universo semelhante em sua trama.  




 

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