A guerra invisível do Brasil

Estudos da ONU traçam um cenário de extrema violência no Brasil, pior do que os países em conflito armado. Os índices de mortes por armas de fogo são alarmantes e, as vítimas, jovens negros e pobres

Rogério da Silva, 29 anos, saiu cedo de casa no Dia das Mães e foi encontrado morto nas proximidades de sua rua, em Santos, litoral sul de São Paulo, para desespero de sua mãe, Débora Maria. O vendedor Thiago Vieira da Silva, 22, saiu para se divertir com os amigos e foi executado com dez tiros na zona sul de São Paulo. O garoto Alan de Souza Lima, 15, foi brincar com os amigos, também no Rio de Janeiro, levou um tiro e morreu. A dolorosa realidade dessa invisível parcela da sociedade brasileira foi colocada à mostra num relatório divulgado na quinta-feira 14, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), coordenado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz. O Mapa da Violência de 2015 trouxe à tona um dos maiores problemas do Brasil, a elevada taxa de mortalidade por disparos de armas de fogo. Segundo o estudo, o número de mortos chegou a 42.416 pessoas em 2012. Isso significa dizer que o País registra 116 mortes por dia. O trabalho conclui ainda que 94,5% dessas mortes são classificadas como homicídios – uma média de quatro assassinatos por hora. Desde o início da pesquisa, de 1980 até hoje, o número de mortes causadas por armas de fogo aumentou 387%. Quando o recorte se restringe à população jovem, de 15 a 29 anos, o crescimento é ainda maior, 460%. “Trata-se de uma omissão por parte do Estado e da sociedade”, afirma Renato Sérgio de Lima, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e vice-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Estamos perdendo nossos jovens que fazem parte da força de trabalho e, ao invés de construir um país mais justo, estamos assistindo uma nação com mais mortos e boicotando nossa sobrevivência como um país soberano. Essa conta vai chegar para as futuras gerações”, diz.


CONFRONTO
Protesto na UPP de Manguinhos, Rio de Janeiro, após a morte
de um morador por policiais militares
O Brasil possui uma realidade tão ou mais impressionante do que países que vivem cenários de guerra e conflitos armados. A taxa de mortes por armas de fogo é de 21,9 para cada 100 mil habitantes, a segunda mais alta já registrada, perdendo apenas para 2003, de 22,2 mortes para cada 100 mil habitantes. O ranking também comparou o índice de mortalidade por armamento em 90 países, no qual o Brasil ocupa a 11ª posição. Dados do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) comprovam esse panorama. De cada 10 homicídios que ocorrem no mundo, um deles é no Brasil. O índice foi alavancado de forma quase exclusiva pelos homicídios que, desde a década de 1980, aumentaram 556,6%. Outro relatório da ONU, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), coloca o País em sexto lugar no mundo na taxa de homicídios de crianças e adolescentes de zero a 19 anos em 2012. O documento mostra que o Brasil registrou 17 homicídios por 100 mil habitantes nessa faixa etária, atrás apenas de El Salvador, Guatemala, Venezuela, Haiti e Lesoto. “Falta acesso às políticas públicas. Com isso, a arma de fogo acaba se tornando um instrumento de poder e o crime, uma opção tentadora nas mãos de uma parcela invisível”, diz Carolina Ricardo, assessora do Instituto Sou da Paz.
Reportagem completa no site  Istoé

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