Por que tudo é tão caro no Brasil?

Começo o texto com um axioma: tudo é pornograficamente caro no Brasil. Alguém discorda?
Uma primeira coisa que é cara por aqui é o próprio dinheiro. O Brasil tem uma das maiores taxas de juros do mundo e o juro é o preço dessa mercadoria sui generis.
A usura cobrada pelos bancos no cartão de crédito e no cheque especial são dignos de uma esfera VIP no inferno de Dante. No cheque especial a taxa é de 200,6% ao ano. Um bagatela, acredite. Neste mês atingimos a maior taxa de juros do cartão desde 2003. Pagamos surreais 258,26% ao ano. Isso significa que se você deve hoje R$ 100 no cartão, em 2016 deverá R$ 358,26 e em 2017, R$ 1.283,50. Nos Estados Unidos em 2014 a taxa média do cartão de crédito foi de 15,02%. Assim, o americano que deve US$ 100 no cartão de crédito hoje, terá uma dívida de US$ 132,29 em dois anos.
Já a poupança rendeu 7,08% durante 2014. Pensando que a inflação registrada pelo IPCA foi de 6,41%, o rendimento líquido obtido foi igual a um saco de amendoim.
Os banqueiros no Brasil são fundamentalmente usurários educados na Suíça. E o governo é parceiro dessa agiotagem (ver definição 2 do dicionário Houssais). Há uma série de fatores que explicam esse assalto - baixa taxa de poupança do país, insegurança jurídica, carga tributária - mas uma que se destaca é ausência de concorrência. Esse é um fator fundamental para explicar a diferença entre a SELIC (12,25% a.a.) e a taxa cobrada pelos bancos aos tomadores (258% a.a.). Fosse eu dono de banco nesse cenário, cobraria era 500% logo.
No Brasil só existe Itaú, Bradesco e BB. O resto é resto. Assim fica fácil escalpelar a nós, os trouxas. Não gostou do serviço do Itaú? Vá para o Bradesco e será tudo igual. E vice-versa.
E qual o motivo de os bancos estrangeiros não abrirem agências no Brasil para tomar seu quinhão nesse butim? Perguntem a Dilma e depois me contem.
O preço das outras mercadorias também é surreal por aqui.
Há um site fantástico que faz graça com nossa desgraça. Como diz aquele frevo antigo: é de fazer chorar. A postagem mais recente compara as lojas IKEA e Tok Stok. Ambas são especializadas em vender móveis rodriguianos: bonitinhos, mas ordinários. Mas elas fazem isso a preços muito distintos. A IKEA, aliás, há muito prometia uma loja no Brasil. Desistiu. Diz-se que por conta dos altos impostos e da burocracia.
E o preço das roupas, dos eletrônicos? Somos todos contrabandistas quando viajamos para o exterior. A Receita Federal da Coreia do Norte, digo, do Brasil, só permite ao viajante trazer US$ 500 em compras por viagens de ar e US$200 por viagem de terra. Acontece que a diferença de preço é tão abissal entre o Brasil e os Estados Unidos (e o bom e velho Paraguai), que tem valido a pena viajar só pra fazer enxoval de criança, decorar a casa, trocar o guarda-roupa, comprar eletrônicos, fazer supermercado, completar o álbum de figurinhas do campeonato brasileiro.
Mas na terra do Pau-Brasil é proibido pagar um preço decente pelas mercadorias. Aí nos tornamos contrabandistas amadores. Há sempre alguém mais escolado para nos aconselhar: "use os sapatos para que eles fiquem com a sola suja", "coloque fotos e alguns arquivos nesse iPad", "deixe as coisas fora da embalagem para que elas percam o cheiro de novo" (Sei de casos de fiscais que cheiraram bolsas de uma mulher para atestar via nariz que elas eram novas. São os sommelier de couro).
E de tanto ver triunfar as nulidades, como diria Ruy, não há honesto que resista a burlar essa lei idiota e escrota. Por isso chegamos no aeroporto ou cruzamos a ponte como que traficantes de cocaína: suando frio, com medo de sermos levados para a "salinha".

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