Crônicas & Críticas

contos
O príncipe salvou a princesa do dragão feroz. Todos foram felizes para sempre...

SERÁ QUE FOI O FIM?
Fiquei sabendo que não. A partir do final dessa história, surgiu uma outra, que não é muito bem aceita pelas pessoas. Por isso, pouquíssimas pessoas sabem dessa outra história.

A RAINHA DEPOSTA

Ela era uma rainha muito bela. Emocionava os súditos do reino. A imagem imaculada projetada pela jovem dava paz de espírito ao rei e ao seu povo, que a admiravam.
Cansada desse exagero excessivo, foi passear escondida no bosque. Sentia-se entediada, de os súditos e o rei a tratarem como porcelana frágil qualquer.
Sem sentir que estava sendo observada, corria entre as árvores e mergulhava no lago. De repente, sentiu alguém se aproximar. Não era humano, mas um exótico animal do bosque. Tinha cabelos longos, corpo de um homem forte, olhos e orelhas com características felinas. Chegou bem perto dela e disse:
– Quem é você?
– Sou a rainha do reino Azul.
– Não me interessa se é rainha, você é gostosa!
– Mais respeito, ninguém me chama assim!
– Respeito nada, vem cá gracinha.
O exótico animal a agarrou, rasgando seu vestido delicado. Ela estranhou sua reação, gostou de ser tocada daquela maneira. Sentiu ser desejada, esqueceu-se da imagem imposta de rainha angelical por seu marido e os súditos do reino. Depois de tudo terminado, o ser do bosque foi embora.
Quando a rainha apareceu decomposta no palácio, o rei e os súditos propuseram matar “a besta”. Mas, ela disse: – Gostei ser tocada daquela maneira. Foi bom!
Todos se revoltaram e a chamaram de “vagabunda!”. O rei traído a expulsou do palácio.
Ela se transformou numa viajante errante. Nunca mais encontrou a criatura do bosque, que a libertou. Teve outras paixões.
Seguiu sua vida como quis, até o fim de sua existência.

***
INDIFERENÇA

Vi um assassinato. Merda! Não posso me preocupar com isso. Tenho prova amanhã cedo na faculdade; preciso arranjar emprego; levar o cachorro ao veterinário; comprar as coisas para o churrasco do final de semana. Nem conheço o cara que foi morto. Tenho muitos problemas para resolver. Bem, estava equivocado... Perplexo, com o sumiço de minha noiva e com um bilhete curto: " estou indo embora, não te amo mais" , pedi à sua mãe que me deixasse ir ao quarto da filha. Ao vasculhar todo o lugar, descobri o diário dela: "...estou apaixonada por ele e esta paixão me deixa louca. Ele me revelou sua profissão, tive medo e ao mesmo tempo uma excitação. O meu namorado é indiferente, já o outro é quente e atencioso.Um dia, comentou que me viu saindo com o Jorginho e que eu estava com o rosto entediado. Falou que o reconheceu, quando assassinou o seu desafeto... Quis matá-lo também, mas o meu namorado não fez nada como sempre (vivi só para si!!!).Então, Márcio decidiu deixar pra lá e poupar a vida Jorginho "o cornudo sangue de barata", como Márcio o apelidou. Disse que vai fazer o último serviço, que vai custar um bom dinheiro. Depois, a gente vai fugir para um lugar tranqüilo. Disse que tem um bom pé de meia. Não vamos passar a perto.".
Pois é, deveria ter denunciado aquele cara. Agora, serei alvo de fofoca de toda a vizinhança. Mas o tempo passa. Esse caso que aconteceu comigo se tornará indiferente para mim e aos outros.

Antonio Gramsci: "Odeio os indiferentes. Acredito que viver significa tomar partido. Indiferença é apatia, parasitismo, covardia. Não é vida. Por isso, abomino os indiferentes. Desprezo os indiferentes, também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Vivo, sou militante. Por isso, detesto quem não toma partido. Odeio os indiferentes."
Fonte: Quinzena, nº 236. São Paulo, CPV, 31.08.96, p.32. http://www.espacoacademico.com.br/016/16agramsci.htm
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Comentários

Ricardo Rayol disse…
Gostei do conto da rainha ...nada como um lobo mau para libertar de sua redoma.
Lindo conto, que talento Dudu.
Big Kiss