Crônicas & Críticas

Grande Mulher
Ela foi escolhida por um júri exigentíssimo como a mais importante entre os pensadores do século XX, pela ONU: chamava-se Hannah Arendt.

Nasceu em 1906, em Honnover, na Alemanha, de uma família judia. Cedo direcionou seus estudos para a filosofia, passando a se dedicar à ciência política. O nazismo levou Arendt a emigrar, em 1933, para Paris, de onde teve novamente de fugir em 1940, indo para Nova York. Naturalizou-se norte-americana em 1951. Foi uma teórica, muitas vezes descrita como filósofa, apesar de ter recusado essa designação. Sua obra literária é monumental, mas a obra que criou com paixão onde a autora tenta saber o que se passara, porque é que tinha acontecido e como tinha sido possível acontecer o totalitarismo, é o livro As Origens do Totalitarismo. Nele, Hannah mostra o quanto a banalização do mal prejudica a sociedade de massa e dá condições para o surgimento de sistemas totalitários e falsos lideres, que tanto enganam o povo com sua retórica e gestos espetaculosos. De facto, ela demonstra com toda a clareza o carácter inédito do fenómeno do totalitarismo político, como revelação de um mal absoluto que sustenta não apenas a causa de crimes não puníveis, como imperdoáveis. É dela também esse pensamento:

O totalitarismo é uma forma de domínio radicalmente nova porque não se limita a destruir as capacidades políticas do homem, isolando-o em relação à vida pública, como faziam as velhas tiranias e os velhos despotismos, mas tende a destruir os próprios grupos e instituições que formam o tecido das relações privadas do homem, tornando-o assim estranho ao mundo e privando-o do seu próprio eu”.

A mulher que inaugurou, nas faculdades americanas, o magistério feminino da Filosofia, leccionando Filosofia e Ciências Políticas em prestigiadas universidades americanas, teve postura discreta e revelava uma personalidade reservada e avessa a fama, confessando mesmo, que tinha horror às mulheres célebres. Numa entrevista à televisão alemã, foi-lhe perguntado se o problema da emancipação feminina era seu caso particular. Ela respondeu simplesmente, sem qualquer receio de parecer antiquada: “Sempre pensei que existiam determinadas actividades que não convinham às mulheres, que não lhes ficavam bem, por assim dizer. Dar ordens não fica bem a uma mulher e, por isso, ela deve esforçar-se por evitar tais situações se, entretanto, quiser conservar as suas qualidades femininas. Não sei se tenho razão ou não. Seja como for, pelo meu lado, mais ou menos inconscientemente, conformei-me com essa opinião. O problema em si, para mim, pessoalmente, não desempenhou qualquer papel. Na realidade, fiz simplesmente aquilo que tinha vontade de fazer.”

Não será esta afirmação a mais forte expressão de liberdade?

Hannah não somente pensou sobre política, mas também sobre a educação, sobre a cultura, sobre a ciência; sua investigação sobre o pensamento e sobre a vontade – toda essa abundância de temas torna o pensamento de Hannah Arendt uma oferta cheia de preciosas passagens para todos aqueles que desejam pensar.

Hannah casou-se duas vezes, mas seu grande drama emocional foi a paixão, até sua morte em 1975, por cinqüenta anos, pelo filósofo alemão que foi seu professor, Martin Heidegger, que nutria uma certa admiração por Hitler e ainda, em seus seminários marginalizava os judeus como ela. Apesar de tudo isso, ela nunca conseguiu deixar de amá-lo.

É... quem entende o amor?

Comentários

Fatima Gama disse…
Um grande mulher amiga Hilda, lembrei agora da minha monografia, foi sobre a Discriminação da mulher no mercado de trabalho", quem entenderá o amor? Boa pergunta rsr, o amor tem razões que a própria razão desconhece. Bjs e bom fim de semana
Amanda bjs, estava com saudades!
Excelente post querida Hilda, com tangentes direcionadas a liberdade de expressao...Acredito que o ser humano mais cedo ou mais tarde chegara a uma apoteose politica de liberdade de expressoes mas sempre com o respeito pelo seu semelhante.

Obrigada querida Fatima, bjs para ti também.
Big Kiss
Anônimo disse…
Um exemplo de vida!!!
Anônimo disse…
Gente, não viaja, esse vídeo aí do Alexandre garcia é a maior furada, isso é um boato que tá correndo na web há uns dois meses, difundido por gente que queria prejudicar o governo nas eleições. Garcia não foi demitido coisa nenhuma, já desmentiu isso umas dez vezes!!! Procurem se informar melhor, um blog jornalístico que se preza não deve contribuir para a propagação de boatos sem fundamentos.