ROMANCE NUMA CERTA TARDE CARIOCA

... o escritor estava meses sem colocar uma idéia no papel. Delirante, ficava horas trabalhando na máquina de escrever. Depois rasgava os textos inacabados ora com raiva ora desiludido.
Resolveu passear. Visitou os lugares do Rio de Janeiro que o inspirava. Foi ao Corcovado. Secretamente se sentia bem perto do Cristo Redentor, mesmo dizendo que era ateu para os outros, ainda existia aquele menino que gostava de ir à missa com a avó. Pegou uma garrafinha de uísque. O sol já estava se pondo.
De repente, vê uma mulher elegante. Ele a reconhece. “ Sofia! Sinto a fragrância do seu perfume de longe”. Relembrou dos tempos em que ela ia ao seu pequeno apartamento em Botafogo. Sempre ia à tarde. Conversavam sobre literatura e filosofia, nos intervalos, transavam. No início era sexo puro e debate de idéias, mas a intimidade foi crescendo e o amor começou a surgir. Os dois ficaram com medo, não queriam perder o controlo de si mesmos. Consideravam-se céticos e acreditavam que o amor era invenção da literatura burguesa. Há um ditado popular: “ Dessa água nunca beberei”, pois é, mergulharam profundamente na imensidão do mar.
Sofia era escritora e casada com um diplomata. Jorge, um autor com sérias dificuldades financeiras. Encontraram-se numa reunião de um amigo em comum. Foi paixão à primeira vista. No início, tentavam mascará-la com rivalidades: quem sabia mais ou quem escrevia melhor. Mas, não conseguiram resistir.
Gostavam de passear pela Cidade do Rio de Janeiro. Ambos tinham amor incondicional pela cidade natal. Com o passar das estações, a relação ficava cada vez mais intensa. Resolveram dar um tempo, porém, nunca se esqueceram. Tinham medo, viram-se enredados em algo inexplicável, que não conseguiam lidar.

Jorge foi à sua direção.
Sofia, que coincidência.”.
Ela deu um sorriso: “ Na realidade nem tanto. Eu telefonei para você. A moça que faz a faxina na sua casa me atendeu e disse que você estava dando uma volta. Me lembrei que gostava de vim para cá, para ter inspiração.".
“Há algum problema?”
“Não posso viver sem você. É esse o problema.”
“Eu também. Sinto saudade das suas idéias, textos e do seu corpo.”
“Sinto a mesma coisa. Me separei do Augusto. Estava cansada daquela vida, quero experimentar coisas novas com você.”
“Engraçado estava sem inspiração para escrever, agora, tenho tantas idéias... Acho que tudo vai ser diferente agora.”
“ Não vamos planejar nada. Viveremos o agora. Não sei se vamos dar certo, mas tentar é melhor do que ficar sem viver.”
Os amantes se beijaram delicadamente e ao mesmo tempo ardentemente, havia uma harmonia entre a doçura e o erotismo. A única testemunha desta cena hollywoodiano foi a paisagem lá embaixo do Rio de Janeiro, que estava dourada pelo pôr do sol...

Comentários

Bem vindo Dudu e parabéns pelo excelente conto!
Big kiss
Anônimo disse…
Oi Dudu, boa estréia no Águas da Vida! Também gosta de contar historinhas, é? Gostei da de hoje... espero outras, companheiro!