Fui escrever uma matéria sobre rampas que estão sendo construídas para que os deficientes físicos tenham melhor mobilidade para andar na rua. Mas eu não podia dizer que eram deficientes, e sim "portadores de necessidades especiais", ou "pessoas com mobilidade reduzida", ou "cadeirantes".

Que coisa feia! Fica tão feio em um texto, pensei. Ah, mas é preciso ser politicamente correto, argumentou o meu chefe.

Lembrei de quando fui ao cinema assistir o Star Wars 3, em que algum grupo em defesa dos direitos da raça negra mudou a versão do filme. Não se falava mais em "lado negro da Força", e sim em "lado sombrio da Força". Só mesmo alguém muito ignorante faria a ligação entre "lado negro" e "raça negra", e não com a escuridão, o breu, a falta de luz.

Então é assim: se você estiver narrando um desmaio, não pode dizer que "ficou tudo preto". Vão te acusar de racismo. Os politicamente chatos!!

Eu não tenho nada contra ninguém, mas tenho contra quem fica patrulhando os outros nesse sentido. Não se pode falar em cegos e surdos, e sim em "pessoas com visão reduzida", "pessoas com audição especial". Não se pode fazer brincadeiras, que já te colocam contra alguém. E o engraçado é que você pode falar de carecas, gordos, magricelas, narigudos. Mas outro dia eu estava num táxi e disse: "Ah, eles fazem bobagem e depois vem neguinho encher meu saco!"
O taxista ficou azedo e perguntou se eu tinha algo contra os negros. O que uma coisa tem a ver com a outra, meu Deus??

Pra mim, quem fica se incomodando demais com esse tipo de coisa, não se aceita como é e, portanto, é muito mais preconceituoso do que qualquer outra pessoa a quem eles venham acusar de discriminação. Quem fica ofendido com brincadeiras sem intenção de ofender precisa urgentemente se olhar no espelho e se gostar justamente daquele jeito.

Eu não vou dizer aqui que tenho amigos negros, nem gays, nem deficientes, nem nada. Porque eu não classifico as pessoas que eu gosto. Não falo que tenho amigos médicos, nem brancos, nem loiros, nem baixinhos, nem gordos. São amigos. Apenas isso! É assim que as pessoas precisam se enxergar. Somos pessoas, gente, seres humanos. Não somos brancos, negros, surdos, cegos, obesos, nem precisamos de nomenclaturas chatas para nos diferenciar do resto.

E o mesmo eu digo de pessoas que adoram ter comportamentos bizarros em público, e depois reclamarem de discriminação. Em primeiro lugar, quem se aceita plenamente não tem necessidade de pautar todas as atitudes de sua vida de forma a deixar todo mundo chocado sempre. "Vejam como eu sou porra louca!", "Eu encho a cara mesmo, e daí?", "Não me aceitam porque eu sou travesti!", "Me olham torto só porque eu pintei meu cabelo de azul, pendurei uma melancia no pescoço e ando pelado na rua. Eles não me aceitam como eu sou!".

Quem se aceita não tem necessidade alguma de se auto-afirmar o tempo todo, nem fica se deliciando com os olhares de reprovação para justamente dizer aos outros como ele é discriminado. Agora, quem não está resolvido consigo mesmo fica espelhando nos outros a sua própria auto-reprovação.

Quem está bem resolvido com a sua condição, seja ela qual for, está literalmente se lixando para o que os outros pensam.

Essas chatices politicamente corretas só servem para nos segregar e não nos acrescentam em nada. Obrigações desta natureza não protegem o mais fraco e nem fazem com que eles sejam tratados como iguais. Fica parecendo que eles se sentem diferentes e ficam querendo um rótulo para confirmar isso. Eles são gente como nós.

Agora, aqui entre nós... escrever "cadeirantes" é feio demais, né não?

Comentários

Fica complicado falar de negros e acharem que somos racistas, assim como usamos a palavra negro, usamos a palavra branco, acho que o maior preconceito vem das proprias pessoas que se sentem ofendidas pelo racismo...Politicamente correto? Dificil.